A potência de vozes necessárias que vêm dos livros. Durante o Festival RioMar de Literatura, conversamos com a escritora e filósofa Djamila Ribeiro (@djamilaribeiro1) , uma das vozes mais influentes na luta antirracista no Brasil. 

Neste bate-papo rápido com Fábio Lucas, ela fala sobre o papel da literatura no combate ao racismo. Confira!

Livronews Qual é o papel da literatura para a luta antirracista e o feminismo negro no Brasil, hoje? Como é que você está vendo esse movimento?

Djamila Ribeiro Acho que nos últimos anos a gente viu uma crescente publicação de autoras negras e autores negros no Brasil, muito, também, por conta de iniciativas de editoras e de selos que se propuseram a publicar autores negros. E hoje a gente tem autores negros sendo best-sellers, ‘ na lista de livros mais vendidos, sendo adotados nas escolas, na lista dos vestibulares. Isso é muito importante não só para a literatura negra, mas para a formação do Brasil. Porque uma história do Brasil que é contada sem a literatura negra, sem o trabalho, as produções intelectuais das pessoas negras, é uma história incompleta. Assim como a gente aprender sobre a história dos povos indígenas, e assim por diante. Eu acho que o papel da literatura é que ela é importante para a formação de uma sociedade cidadã e fundamental para que a gente conte a história do Brasil, levando em conta todos os seus protagonistas.

Livronews Como é que isso se insere no contexto contemporâneo, onde você tem tanta radicalidade, tanta coisa extremista e tanta intolerância, não só nas redes sociais, mas também nas relações sociais, de um modo geral, no país?

Djamila Ribeiro É um desafio, mas eu costumo citar a Grada Kilomba, que é uma autora que eu gosto muito, que fala que o Brasil tem vários fantasmas, mas a gente não lidou com esses fantasmas. O fantasma do colonialismo, do racismo. O Brasil foi um país que negou a existência do racismo durante muito tempo, e esses fantasmas vão sempre voltando e nos assombrando. A gente sempre viveu momentos muito difíceis nesse país, quando a gente fala da questão racial. Eu acho, também, que essa radicalidade contra, se dá muito ao fato do movimento ter crescido, da visibilidade ter aumentado. E a gente, agora, vai ter que encontrar essas pontes de diálogo, tentar quebrar esses muros que já existem demais, tentar infiltrar nesses muros conversas, diálogos, para a gente conseguir pensar esse país sem tanto ódio, sem tanta legitimação dessas diferenças, que determinados grupos que querem manter. A gente não pode cair nesse jogo, a gente tem que continuar trabalhando para construir essas ruas.

Livronews As redes sociais hoje tanto são um problema, quanto também podem ser uma alternativa de difusão de ideias e de comportamentos. Queria que você falasse um pouquinho sobre isso.

Djamila Ribeiro Pois é. Se, por um lado, a gente consegue divulgar o nosso trabalho, divulgar autores independentes, muitas vezes conseguindo a visibilidade dos seus trabalhos a partir da internet, a gente também não pode esquecer que, se não houver uma regulação, elas vão atender aos grandes grupos econômicos, que não necessariamente têm um interesse, de fato, com a sociedade. Por isso que eu sou muito a favor da regulação, no sentido de que a gente tem grandes empresas bilionárias, com lucros bilionários, muitas vezes, lucrando em cima de fake news, de ódio, sem serem responsabilizadas por isso. Eu acho que é dever do Estado pensar maneiras de regular e fazer com que essas big techs sejam responsabilizadas. Se eu for agora na internet, gravar um vídeo e colocar lá que, sei lá, o holocausto não existiu, eu consigo publicar. E quem que se responsabiliza por isso? Eu acho que é necessário que, de fato, haja essa regulação. E até lá a gente continuar lutando por isso e tentar também do nosso lado promover uma internet que seja, de fato, uma estratégia pra comunicar, pra criar pontes.