A recomposição de memórias familiares pode ajudar no processo de elaboração da voz autoral? A escritora e pesquisadora Fernanda Zanelli aposta nesta ideia ao desenvolver um projeto de residência artística no Recife e região onde a viagem ao passado e ao presente da cidade é também a busca por um fio de meada capaz de traçar as linhas de seu novo romance.
A jornada de Fernanda tem a companhia de sua mãe, Edileuza Maria Fragoso, que retorna, pela primeira vez em 60 anos, para o lugar onde nasceu. As duas visitam pontos da cidade e imediações entre 13 e 22 de janeiro, principalmente em Casa Amarela. Este é o bairro onde Edileuza viveu até os 10 anos e que seus pais trabalharam na tecelagem da antiga fábrica Macaxeira.
“As histórias da minha avó sobre a vida dela em Pernambuco sempre povoaram meu imaginário, porque elas guardavam uma vitalidade de origem e, ao mesmo tempo, algumas sombras. São lembranças que se desbotaram com a vinda deles para o sudeste, quando meu avô perdeu o emprego na fábrica”, conta Fernanda. Ela acredita que ao tratar de episódios como estes, e buscar pistas desta paisagem ancestral perdida, constrói-se um diálogo direto com uma memória coletiva de outros tantos brasileiros que também tiveram suas trajetórias atravessadas por uma necessidade constante de deslocamento e, com isso, de rompimento com passagens e pessoas importantes de suas vidas.
Além desta visita ao passado, o objetivo é se conectar com a cultura recifense e seu entorno, conversando com escritores, artistas e se aproximando mais da arte pernambucana e seu capital intelectual. O projeto recebeu o apoio de um edital de aprimoramento artístico do governo do estado de São Paulo, pela Lei Paulo Gustavo.
Não é de hoje que Fernanda estuda o tema da memória e se conecta com ela para compor o universo de suas obras ficcionais. Ela já terminou um romance – que foi o seu trabalho de conclusão de curso da pós-graduação de escrita literária do Instituto Vera Cruz, em São Paulo – cuja história é inspirada na ocasião da morte de sua bisavó materna. O objetivo agora é dar continuidade a este arco narrativo em novas obras, a partir da trajetória de outras gerações de mulheres da sua família.
Como pesquisadora, Fernanda já publicou, com o apoio da prefeitura de São Paulo, um livro sobre lugares de memória negra na cidade: o Guia Itinerários da Experiência Negra, em co-autoria com o historiador Fábio Dantas Rocha. Agora, está desenvolvendo uma pesquisa de doutorado na Escola de Comunicação e Artes da USP sobre a produção de textos autorais e os fatores associados à legitimação de autores, com o objetivo de contribuir para o debate da democratização da cena literária brasileira.
A jornada de Fernanda tem a companhia de sua mãe, Edileuza Maria Fragoso, que retorna, pela primeira vez em 60 anos, para o lugar onde nasceu. As duas visitam pontos da cidade e imediações entre 13 e 22 de janeiro, principalmente em Casa Amarela. Este é o bairro onde Edileuza viveu até os 10 anos e que seus pais trabalharam na tecelagem da antiga fábrica Macaxeira. *Toda essa viagem é ainda mais especial neste momento, pois Fernanda está grávida de sua segunda filha.
Fernanda Zanelli – mestre e doutoranda em Informação e Cultura (ECA/USP), especialista em escrita literária (Instituto Vera Cruz), em gestão de projetos culturais (Universitat de Girona) e em globalização e cultura (Fundação Escola de Sociologia e Política). Atua há mais de 20 anos no campo social e cultural. Como escritora, foi contemplada no edital 23/2023 da Lei Paulo Gustavo, para aprimoramento artístico; seu conto “A morte e a mágica” foi selecionado e publicado pelo clube de leitura Amora Livros, em parceria com a escritora Tati Bernardi. Foi semifinalista do concurso Pena de Ouro em 2023, na categoria conto.
Links
Amora livros:
https://www.amoralivros.com.br/post/pe-de-amora-conto-selecionado-pela-tati-bernardi
https://www.instagram.com/stories/highlights/18008140354695050
Jornada literária – Biblioteca Mário de Andrade
