A história das histórias em quadrinhos no Brasil é rica e diversa, com artistas que não apenas marcaram o cenário nacional, mas também ganharam reconhecimento internacional. Para celebrar o Dia do Quadrinho Nacional, Livronews relembra alguns dos mais importantes quadrinistas brasucas.

O mais bem-sucedido de todos é, sem dúvida, Mauricio de Sousa. Criador da Turma da Mônica em 1959, ele revolucionou o mercado de quadrinhos no país, transformando seus personagens em um fenômeno cultural que atravessa gerações. Com mais de 1 bilhão de revistas vendidas, e licenciamento de seus personagens a todos os tipos de produtos (de laticínios a videogames), Mauricio de Sousa é um exemplo de como os quadrinhos podem unir entretenimento e negócios.

Péricles, criador do Amigo da Onça, é uma figura lendária dos quadrinhos brasileiros. Seu personagem, um sujeito sarcástico e sempre envolvido em situações embaraçosas, foi publicado por décadas na revista O Cruzeiro e se tornou um ícone do humor nacional. Péricles usou o Amigo da Onça para satirizar a sociedade e o comportamento humano, deixando um legado que influenciou gerações de cartunistas.

Outro nome fundamental é o mineiro Ziraldo, que perdemos no ano passado, e é mais lembrado como sendo o criador de O Menino Maluquinho. Mas, antes disso, ele participou do Pasquim e lançou a primeira revista em quadrinhos de personagens 100% brasileiros, a Turma do Pererê, no qual comentou a riqueza de nossa cultura, fauna e flora. Ziraldo não apenas popularizou os quadrinhos no Brasil, mas também mostrou que as HQs podem ser uma forma de arte sofisticada, capaz de abordar temas complexos com leveza e humor. Livros como Flicts (que conta uma história, do começo ao fim, apenas com cores e sem linhas) e Jeremias, O Bom são marcos de sua maestria gráfica de vanguarda.

Henfil, pseudônimo de Henrique de Souza Filho, foi um dos maiores nomes da charge política no Brasil. Irmão do sociólogo Betinho, e hemofílico como ele, viria a morrer de AIDS precocemente, em 1988. Criador de personagens como Graúna, Zeferino e Os Fradinhos, ele usou seu traço irreverente para criticar a ditadura militar e as desigualdades sociais. Também foi o criador do slogan da campanha “Diretas já!˜. Henfil foi um artista engajado, cujo trabalho continua a inspirar debates sobre política e justiça social.

Millôr Fernandes, um dos mais versáteis artistas brasileiros, deixou sua marca nos quadrinhos com tiras como Pif-Paf e A Verdadeira História do Paraíso. Seu humor inteligente e sua crítica afiada à sociedade e à política fizeram dele uma voz única no cenário cultural do país. Millôr também foi um prolífico escritor, dramaturgo e tradutor, mostrando que os quadrinhos podem dialogar com outras formas de arte.

Laerte Coutinho, juntamente com Glauco e Angeli, foi descoberta por Henfil, quando trabalhava fazendo cartilhas para o movimento sindical paulista. Os três fizeram parte de um “desbunde” tardio, por surgirem na época da abertura, fim do regime militar no Brasil. Acabou por se tornar uma das mais importantes cartunistas e quadrinistas do país, e trouxe uma abordagem única para o universo dos quadrinhos. Conhecida por suas tiras e charges publicadas em jornais como a Folha de S.Paulo, Laerte explorou temas como gênero, política e comportamento humano com uma sensibilidade incomparável. Sua obra Piratas do Tietê é um marco dos quadrinhos brasileiros, misturando crítica social e humor ácido.

Angeli, criador de personagens como Rebordosa e Rê Bordosa, é outro ícone dos quadrinhos brasileiros. Com um traço irreverente e um humor ácido, ele retratou a vida urbana e a contracultura dos anos 1980 e 1990. Suas histórias, publicadas principalmente na revista Chiclete com Banana, influenciaram uma geração de quadrinistas e continuam a ser referência para quem busca uma visão crítica e bem-humorada da sociedade.

Glauco, criador de Geraldão, foi um dos cartunistas mais irreverentes e provocativos do Brasil. Suas tiras, publicadas em jornais e revistas, abordavam temas como a vida cotidiana, a política e o comportamento humano com um humor ácido e muitas vezes surreal. Glauco deixou um legado marcante, influenciando uma geração de artistas com seu estilo único.
Fernando Gonsales, criador do Níquel Náusea, é conhecido por seu humor absurdo, que toma deixas em sua formação acadêmica como veterinário e biólogo. Seu personagem, um rato cínico e filosófico, conquistou fãs com suas reflexões ácidas sobre a vida moderna. Gonsales também é um dos fundadores da revista Circo, que reuniu alguns dos maiores talentos dos quadrinhos brasileiros. Também foi roteirista do extinto programa de televisão TV Colosso, da emissora Rede Globo.

Marcado por um estilo visual único e narrativas profundas, Lourenço Mutarelli é outro nome essencial. Autor de obras como O Dobro de Cinco e O Cheiro do Ralo, Mutarelli trouxe uma abordagem mais sombria e introspectiva para os quadrinhos nacionais. Suas histórias, muitas vezes autobiográficas, exploram temas como solidão, loucura e redenção, consolidando-o como um dos grandes nomes da nona arte no Brasil.

A dupla Fábio Moon e Gabriel Bá, irmãos gêmeos e colaboradores frequentes, elevaram os quadrinhos brasileiros a um patamar internacional. Com obras como Daytripper e Dois Irmãos, eles conquistaram prêmios importantes, como o Eisner Award, considerado o Oscar dos quadrinhos. Seu trabalho é marcado por narrativas emocionantes e um traço elegante, que mistura influências nacionais e internacionais.

Marcelo D’Salete é outro nome que vem ganhando destaque no cenário global. Com obras como Cumbe e Angola Janga, ele aborda temas históricos e sociais, especialmente a luta dos negros contra a escravidão no Brasil colonial. Seu traço detalhado e suas narrativas poderosas renderam-lhe prêmios e reconhecimento internacional, como o Prêmio Eisner de 2018, mostrando que os quadrinhos podem ser uma ferramenta potente para discutir questões raciais e históricas.

A quadrinista e arquiteta Ana Luiza Koehler também merece destaque por seu trabalho minucioso e pesquisado. Em Beco do Rosário (2015), ela recria graficamente a transição urbanística de Porto Alegre, ao acompanhar uma personagem que vive nos anos 1920 e sonha em ser jornalista. Seu estilo visual rico e cuidado com precisão histórica a colocam entre os principais nomes da nova geração de quadrinistas brasileiros.

Não podemos esquecer de Rafael Coutinho, filho de Laerte, que vem se destacando com obras como Cachalote e O Beijo Adolescente. Seu trabalho é marcado por uma abordagem experimental, que mistura diferentes técnicas e estilos visuais. Coutinho representa a renovação dos quadrinhos brasileiros, trazendo novas perspectivas e formas de contar histórias.

André Dahmer, criador de Malvados, é um dos nomes mais importantes da nova geração de quadrinistas. Suas tiras, publicadas inicialmente na internet, retratam com síntese, humor ácido e sagacidade as contradições da vida contemporânea. Personagens e séries mais recentes, como Quadrinhos dos Anos 10, Vida e obra de Terêncio Horto, Rei Emir Saad, Solidões, Fronteiras e Algoritmo, que rapidamente se espalham pelas redes sociais como memes, ampliam a cada dia sua popularidade. Dahmer também é conhecido por suas charges políticas, que viralizam nas redes sociais e provocam reflexões sobre o mundo atual.
Por fim, é impossível falar de quadrinhos no Brasil sem mencionar o impacto de eventos como a Bienal de Quadrinhos de Curitiba e a Feira HQ Mix, que promovem e celebram a nona arte no país. Esses espaços não apenas valorizam os quadrinistas nacionais, mas também ajudam a formar novas gerações de artistas, garantindo que a tradição das HQs brasileiras continue viva e vibrante.