Gilberto e o judaísmo: consonâncias e dissonâncias hebraicas no judeu de Apipucos, de Caesar Sobreira, é a primeira obra exclusivamente dedicada a analisar a relação de Gilberto Freyre com os judeus e o judaísmo, um tema que figura entre os pontos mais polêmicos da obra do sociólogo pernambucano. O lançamento acontece nesta sexta, 31 de janeiro, a partir das 19h, na Academia Pernambucana de Letras, onde vai ocorrer um bate papo entre o autor e Jacques Ribemboim e Gilberto Freyre Neto.
Na obra, Caesar Sobreira parte da releitura de 27 livros de Freyre, incluindo as obras Casa-grande & senzala (1933), Sobrados e mucambos (1936) e Ordem e progresso (1959). A pesquisa também envolveu a análise de cerca de 50 textos críticos, que discutem a presença dos judeus e do judaísmo na obra de Freyre. Segundo o autor, “havia uma escassez, para não dizer raridade, dos estudos que se debruçam sobre o tema”. Ele observa que, nos estudos já publicados, o tópico é tratado de forma fragmentada, geralmente em capítulos ou artigos isolados.
A análise de Sobreira se inicia com Casa-grande & senzala, onde ele argumenta que as referências de Freyre aos judeus e ao judaísmo tinham o intuito de exaltar as virtudes intelectuais e científicas, ao mesmo tempo em que criticavam algumas práticas econômicas. Segundo ele, “exceto, talvez, pelos vocábulos considerados inadequados, não há nada o que censurar nessa obra”, e não seria possível comprovar antissemitismo nela. A obra também discute o uso do verbo “judiar”, que, para Sobreira, poderia ser criticado, mas não configura antissemitismo.
O livro é dividido em duas partes. A primeira aborda as várias referências de Freyre ao judaísmo em suas obras, enquanto a segunda explora a questão semítica, analisando a influência dos povos semitas na formação da civilização lusitana e no Brasil, especialmente no Nordeste. Sobreira também dedica atenção à formação intelectual de Freyre e às críticas relacionadas ao suposto antissemitismo de suas ideias.
O estudo também apresenta 11 críticas negativas e 11 positivas à obra de Freyre, incluindo o texto de Jules Henry, antropólogo norte-americano que foi um dos primeiros a acusar Freyre de antissemitismo, sem, contudo, utilizar o termo. Sobreira discute como essas críticas influenciaram a recepção das ideias de Freyre.
O livro conta com o prefácio de Tania Novinsky, que relembra o trabalho de sua avó, Anita Novinsky, que inicialmente seria a autora deste estudo. Tania destaca que a obra de Sobreira “ajuda a olhar o sociólogo pernambucano com novas lentes para histórias que também apresentam novos fatos”.