A segunda edição da pesquisa Panorama do Consumo de Livros, realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) em parceria com a Nielsen BookData, traz um retrato detalhado dos hábitos de leitura e compra de livros no Brasil. O estudo, que entrevistou 16 mil pessoas em todas as regiões do país, aponta que 49% dos brasileiros preferem adquirir livros em livrarias físicas, caso os preços sejam equivalentes aos das lojas online. Outros 44% optariam por comprar pela internet, enquanto 7% não têm preferência.
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“Me parece um pouco óbvio, porque é muito melhor você passar pela experiência de visitar uma livraria, de conversar com um livreiro, de pegar no livro, de cheirar, de ler as orelhas, de ler a quarta capa, até o primeiro capítulo, né?”, diz Monica Carvalho, da Livraria da Tarde. Ela analisa a ressalva de que, segundo a pesquisa, as livrarias deveriam manter o mesmo preço das lojas online, para serem competitivas: “Hoje, com o mercado cada vez mais concorrido, com o crescimento de, fora Amazon, Mercado Livre, Shoppee, vendendo livros a preços inviáveis para uma livraria, fica muito difícil da gente competir. Para mim, essa pesquisa mostra que não temos tantas livrarias, não por falta de leitores, e sim porque é difícil, essa concorrência desleal com a internet. Para mim, os resultados da pesquisa só reforçam a importância da aprovação da Lei Cortez para a sobrevivência das livrarias e dos livreiros.”
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A opinião de Carvalho é consoante à de Alexandre Martins Fontes, Presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL): “Os resultados dessa pesquisa só confirmam o que venho dizendo há algum tempo. Na Alemanha, onde existe uma lei que protege o ecossistema do livro (em outras palavras, que protege as editoras, os autores, as distribuidoras, as livrarias, os leitores, a bibliodiversidade etc), a Amazon é responsável por 18% dos livros comercializados no país. Em outras palavras, 82% dos alemães preferem adquirir seus livros através das livrarias espalhadas por suas ruas, bairros e cidades. No Brasil, onde o Estado brasileiro não faz nada para impedir uma concorrência predatória, mais de 50% dos livros publicados no país são comercializados por uma única empresa. Ou seja, estamos criando um monopólio no setor livreiro e assistindo à lenta e gradual destruição da nossa indústria editorial. Até quando vamos fechar nossos olhos para essa morte anunciada? Lei Cortez já!”
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Para Rui Campos, da Livraria da Travessa, “não ter alguma livraria de qualidade perto de casa deve ser fundamental para as respostas da preferência pela compra on-line. Se ficássemos sem livrarias físicas, a venda de livros despencaria drasticamente. As livrarias on-line não fazem nem de perto o papel de criar demanda por livros.”
A pesquisa também revela que 42% dos consumidores compraram entre 3 e 5 livros nos últimos 12 meses, e 11,5% adquiriram mais de 10 obras. As mulheres são as maiores consumidoras de livros, representando 62% dos que compraram mais de 10 títulos no último ano. A classe B, predominante no Nordeste, e a classe C, com maior concentração no Sudeste, são as que mais se destacam nesse grupo.
Entre as principais motivações para a compra de livros, estão o crescimento pessoal e o lazer. No comparativo com outras atividades culturais, o livro foi a segunda categoria mais consumida (16%), atrás apenas do cinema (19%). A compra de ingressos para shows ficou em terceiro lugar, com 11%.
Hábitos de compra e percepção de preço
Quando o assunto é formato, 56% dos consumidores compraram apenas livros físicos no último ano, enquanto 14% optaram exclusivamente por livros digitais. Outros 30% adquiriram ambos os formatos. A preferência por compras online (55%) é impulsionada por ofertas e conveniência, enquanto 39% dos consumidores valorizam a experiência de manusear o livro antes da compra e a disponibilidade imediata nas livrarias físicas. Livros físicos são mais vendidos no Nordeste, embora haja menos lojas físicas do que no Sudeste. “É clara a opção pelo livro em suas materialidades físicas”, comenta Patrícia Vasconcelos da Livraria Pó de Estrelas, no Recife.
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Em relação aos preços, os livros de entretenimento e lazer (48%) e os infantis/juvenis (40%) são considerados nem caros nem baratos. Já os livros escolares (55%) e os voltados para aprimoramento pessoal e profissional (41%) foram classificados como caros pela maioria dos entrevistados.
Curiosamente, a pesquisa aponta que os consumidores das classes sociais mais abastadas são os que mais reclamam do valor percebido nos preços dos livros.
Números revelam demanda entre não compradores
A pesquisa também analisou o perfil dos não compradores de livros, que representam 84% do total de entrevistados. A falta de tempo (31,8%) é o principal motivo para não adquirir livros, seguido pelo acesso a PDFs e livros digitais gratuitos (32,4%). O preço aparece em terceiro lugar, apontado por 16,7% dos não consumidores.
Fonte: Nielsen BookData e CBL
Esses dados são importantes por trazerem à tona uma demanda significativa de leitores que está encontrando seu acesso ao livro, em formato digital, através da pirataria. É importante para a cadeia do livro discutir soluções, como as que foram necessárias às indústrias da música e do cinema, para contornar o escoamento de seu produto através da internet.
Entre os fatores que desmotivam a compra de livros, destacam-se o preço (35,5%), a falta de livrarias na região (26,2%) e a falta de tempo para ler (24,2%). A percepção de preço elevado também se estende a outros bens culturais, como ingressos para shows (52%) e partidas de futebol em estádios (44%), mas existe uma relação direta significativa entre os consumidores de livros e de outras formas de entretenimento e cultura.
Metodologia e representatividade
O estudo foi realizado entre 14 e 20 de outubro de 2024, com 16 mil entrevistas cobrindo todas as regiões e estratos socioeconômicos do país. A margem de erro é de 0,8%, com um nível de confiança de 95%.
Segundo Sevani Matos, presidente da CBL, a pesquisa reforça a necessidade de políticas públicas eficientes para fomentar a leitura no Brasil. “Este acompanhamento nos mostra que o país precisa cada vez mais de ações sérias para a formação de leitores e o fortalecimento do livro”, afirma.
A CBL, que completa 76 anos em 2025, segue atuando na promoção do acesso ao livro e na democratização da leitura, além de organizar eventos como a Bienal Internacional do Livro de São Paulo e o Prêmio Jabuti.