Foi o desejo de conhecer mais profundamente a atuação de Ariano Suassuna e o papel do Movimento Armorial no período da ditadura militar que motivou Anderson da Silva Almeida a realizar o livro Ariano Suassuna: no teatro da vida (Editora CRV). Organizada por ele, a obra será lançada no dia 7 de fevereiro, na Livraria da Praça de Casa Forte, no Recife, a partir das 17h. O evento contará com a presença do pesquisador e de Clara Suassuna Fernandes, Moisés Neto, Maria do Rosário e Dimas Brasileiro Veras, que também colaboraram com a publicação.
A obra reúne 13 artigos que abordam diferentes aspectos da vida e obra de Ariano Suassuna. Com 354 páginas, o livro se dedica a explorar a trajetória do escritor, dramaturgo e intelectual, ressaltando sua importância para a cultura brasileira, especialmente no contexto da política e da ditadura militar. Maria do Rosário, Geice P. Nunes, Clara S. Fernandes, Tatiane Silva, Lucas Arruda, Geovanni Cabral, Marcelo Tavares, Moisés Neto, Fábio Brito, Iago Luz, Dimas Veras e Eduardo Dimitrov têm textos reunidos no livro.
Segundo o organizador, a ideia foi garimpar pesquisadoras e pesquisadores que já tivessem alguma ligação com a trajetória e com a obra de Ariano. Nessa busca, não foi difícil encontrar dissertações e teses sobre ele, mas, geralmente, essas pesquisas eram focadas em análises de suas obras mais conhecidas, tais como A Pedra do Reino e Auto da Compadecida. Por outro lado, Anderson começou a perceber uma lacuna em relação a textos mais biográficos e de análises da atuação política de Ariano. “Sem tentar produzir uma ‘biografia’, no conceito clássico, construímos a coletânea como um conjunto de ‘biografemas”, que chamamos de fagulhas, pontas de agulhas, sobre a trajetória política e artística de Ariano Suassuna”, explica Anderson.
A obra é dividida em duas partes: a primeira se concentra no perfil biográfico e político de Suassuna, enquanto a segunda foca na análise de suas influências e construção da dramaturgia. “Na parte final, há textos mais ensaísticos assinados por autores/as que conviveram com Ariano. São relatos com características de proximidade e afastamento. Penso que o resultado foi muito interessante porque não construímos uma ‘hagiografia’, ou seja, Ariano não aparece como um santo em um andor”, destaca o organizador.
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Anderson da Silva Almeida organizou o livro.
O lançamento coincide com o aniversário de 10 anos da morte de Suassuna, com a estreia do filme O Auto da Compadecida 2, continuação de uma das mais reconhecidas produções do cinema nacional, que já levou mais 3 milhões de pessoas aos cinemas, e a realização de uma exposição imersiva sobre o mestre no Recife. “Curiosamente, Ariano que era arredio a muitas tecnologias, é um sucesso com os ‘cortes’ de suas aulas espetáculos que estão disponíveis na internet. Um dos vídeos tem mais de 7 milhões de visualizações, o que é de fazer inveja a qualquer ser vivo. O legado de Ariano está mais vivo do que nunca. Voltando para o livro, percebe-se, pelo apanhado geral, que a originalidade de Ariano ainda não foi superada, mesmo que continue a ser contestada. Minha suspeita é que, em 2027, ano do centenário de seu nascimento, teremos um bom termômetro para diagnosticarmos como sua obra aparecerá e se resistirá em tempos de desinteligências artificiais”, avalia Anderson.
O objetivo do livro é alcançar um público mais amplo, indo além do meio acadêmico, e apresentar as contradições e complexidades da figura de Ariano, incluindo episódios pouco conhecidos, como sua relação com os tropicalistas pernambucanos. “Nosso desejo é que, como pediu o próprio Ariano, a sua trajetória seja apresentada a partir de uma narração onde caibam as coisas mais diferentes e opostas, na qual as ambivalências, contradições, erros e equívocos assumidos, não sejam ocultados e apagados. Penso que essa seja a grande contribuição de nossa coletânea, as múltiplas faces de Ariano, sem querer capturá-lo e emoldurá-lo”, pontua.
A obra traz alguns momentos curiosos e interessantes da trajetória do mestre, que já teve como apelidos “Dinga Velho” e “Chocalho”. O leitor vai ficar sabendo que, em uma ocasião, ainda jovem, vivendo no Recife, Ariano passou uma noite na cadeia depois de ter tomado banho nu no Rio Capibaribe na companhia de alguns amigos. “Outro fato interessante foi a polêmica com Jomard Muniz de Britto e Celso Marconi, críticos ferrenhos do Movimento Armorial e defensores da Tropicália Recifense, ou a Pernambucália. Em um momento de fúria, Ariano teria desferido socos contra Celso Marconi e pronunciado a frase ‘esse é para você e o outro é para Jomard’. Esse episódio consta no texto de Dimas Veras e no capítulo escrito a quatro mãos por Iago Luz e Fábio Brito. Depois, na redemocratização, todos fizeram as pazes”, destaca o organizador.
Ariano Suassuna: no teatro da vida
Anderson da Silva Almeida (ORG)
Editora CRV
354 páginas