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Imagem: Cepe Editora / divulgação

Fernando Monteiro: Um intelectual multifacetado entre a literatura, o cinema e a arte

Com tristeza, recebemos a notícia do falecimento de Fernando Monteiro, em 12 de fevereiro de 2025. Nascido no Recife em 1949, é um dos nomes mais versáteis e intrigantes da cultura brasileira. Com uma trajetória que abrange a literatura, o cinema, a crítica de arte e a poesia, construiu uma obra marcada pela profundidade intelectual e pela constante reflexão sobre temas como a história, a arte e a condição humana. Sua produção literária e cinematográfica revela um autor que não se contenta com os limites convencionais, explorando sempre novas formas de expressão.

Monteiro estreou na literatura com o poema Memória do Mar Sublevado (1973), seguido por obras como Ecométrica (1984), premiada nacionalmente e elogiada pelo Nobel de Literatura Camilo José Cela. Seu romance A Cabeça no Fundo do Entulho (1999) ganhou o Prêmio Revista BRAVO! de Literatura, consolidando-o como um dos grandes nomes da prosa brasileira contemporânea. Além disso, sua “Trilogia Graumann”, que inclui As Confissões de Lúcio (2006), apresenta um personagem fictício, Lúcio Graumann, como o primeiro brasileiro a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, uma metáfora poderosa sobre o lugar da literatura no Brasil.

No cinema, Monteiro dirigiu mais de 15 documentários de curta-metragem nas décadas de 1970 e 1980, muitos deles selecionados para festivais internacionais. Filmes como Visão Apocalíptica do Radinho de Pilha (1972) e Bumba-meu-boi da Vida (1979) retratam a cultura nordestina com uma abordagem etnológica única. Apesar de grande parte de sua filmografia ter se perdido devido à deterioração das películas, Monteiro encara essas perdas com uma filosofia resignada, afirmando que “as coisas são para se perder”.

Como crítico de arte, Monteiro publicou o livro Brennand (1987), premiado pela Funarte, e atuou como curador em exposições internacionais. Sua relação com a arte é marcada por um olhar aguçado e uma postura crítica, como demonstra sua rejeição às exposições imersivas, que ele considera uma “vulgarização” da experiência artística. Para Monteiro, a arte deve ser um espaço de reflexão e não de entretenimento superficial.

A vida pessoal de Monteiro também reflete sua conexão com a história e a cultura. Colecionador apaixonado por antiguidades, como a cabeça de Nefertite, adquirida em Jericó, e um púgio romano, trazido por um soldado brasileiro da Segunda Guerra Mundial. Sua biblioteca, parcialmente destruída em um incêndio em 2019, era um tesouro de livros raros e anotados, muitos dos quais ele se recusou a substituir, preferindo guardar a memória das edições originais.

Atualmente, aos 74 anos, Monteiro mantinha uma postura crítica em relação à indústria cultural e ao perfil do leitor contemporâneo. Continuava escrevendo poesia, um “vício”. Sua obra, marcada por rigor intelectual e sensibilidade poética, permanece, para quem busca entender as complexidades da cultura e da existência humana.


Leia também artigo de Eduardo César Maia sobre Fernando Monteiro.

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