A relação entre literatura e cinema está mais vibrante do que nunca no Oscar 2025, com seis dos dez indicados a Melhor Filme sendo adaptações de livros. Para o público brasileiro, o destaque fica por conta de Ainda Estou Aqui, produção nacional que emociona ao transformar memórias pessoais em arte universal. Confira como as páginas inspiraram as telas nesta edição histórica da premiação.

Ainda Estou Aqui (Brasil)
Dirigido por Walter Salles, cineasta aclamado por obras como Central do Brasil e Diários de Motocicleta, o filme é uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. A obra autobiográfica narra a jornada da família do autor antes, durante e após a perda do pai, o deputado Rubens Paiva, sequestrado, torturado, assassinado e oculto pela ditadura militar brasileira. Com Fernanda Torres no papel principal, o da mãe Eunice Paiva, e também concorrendo ao Oscar de Melhor Atriz, o longa mescla drama íntimo e reflexão política, explorando temas como ausência, resiliência e a busca por justiça. A indicação ao Oscar não só celebra a força da narrativa de Paiva, mas também coloca o cinema brasileiro em evidência global, lembrando ao mundo a importância de confrontar o passado para entender o presente.

Um Completo Desconhecido
Baseado no livro Dylan Elétrico! Do folk ao rock (2015), de Elijah Wald, o filme mergulha em um dos momentos mais icônicos da carreira de Bob Dylan: sua ousada transição do folk acústico para o rock elétrico no Newport Folk Festival de 1965. Dirigido por James Mangold (Johnny & June, Ford vs Ferrari), o longa tem Timothée Chalamet no papel do músico, capturando a rebeldia artística e o impacto cultural desse episódio. A produção é elogiada por sua reconstituição de época impecável e pela interpretação visceral de Chalamet, que canta e toca violão incorporando Dylan, e disputa a a estatueta de Melhor Ator com Adrien Brody (O Brutalista).

Conclave
Adaptação do thriller político de Robert Harris, o filme dirigido por Edward Berger (Nada de Novo no Front) transporta o público para os corredores secretos do Vaticano durante a eleição de um novo papa. Com Ralph Fiennes no papel de um cardeal cheio de segredos, o longa explora poder, moralidade e conspiração em uma trama que mistura ficção e crítica institucional. Harris, conhecido por romances como O Oficial e o Espião, tem sua narrativa afiada traduzida em suspense cinematográfico de alta qualidade.

Duna: Parte Dois
A segunda parte da épica adaptação de Frank Herbert consolida Denis Villeneuve como mestre da ficção científica. O filme, que continua a saga iniciada em Duna (2021), aprofunda os conflitos políticos, ambientais e espirituais do universo criado por Herbert, com destaque para as performances de Timothée Chalamet (Paul Atreides) e Zendaya (Chani). A obra é um triunfo visual e narrativo, provando que clássicos literários podem renascer com relevância no século XXI.

Nickel Boys
Baseado em O Reformatório Nickel romance vencedor do Pulitzer de Colson Whitehead, o filme dirigido por Barry Jenkins (Moonlight) retrata a história real de abusos em uma escola correcional na Flórida dos anos 1960. Com um elenco liderado por Ethan Herisse e Brandon Wilson, a produção, com fotografia corajosa e arrojada, que joga o expectador para a primeira pessoa narrativa em várias cenas, expõe o racismo estrutural e a violência institucional, mantendo a delicadeza e a potência emocional que marcaram o livro. É um convite à reflexão sobre justiça e humanidade.

Wicked
Embora seja uma adaptação do musical da Broadway, Wicked tem raízes literárias: o espetáculo é inspirado no livro Wicked: A história não contada das bruxas de Oz (1995), de Gregory Maguire, que por sua vez reimagina O Mágico de Oz. Dirigido por Jon M. Chu (Crazy Rich Asians), o filme estrelado por Cynthia Erivo (Elphaba) e Ariana Grande (Glinda) questiona noções de bem e mal, trazendo um espetáculo visual e uma narrativa empoderadora sobre identidade e resistência.
O Restante da Lista
Completam os indicados Anora, O Brutalista e A Substância — histórias autênticas sem base literária. Emilia Pérez trata-se de um musical original, que está concorrendo na categoria de Roteiro Adaptado, porque o roteiro foi inspirado em uma personagem que é mencionada de passagem em um livro lido pelo diretor. Mesmo assim, as adaptações dominam a cena, mostrando que a literatura segue sendo um terreno fértil para o cinema.

Por que Essa Sinergia Importa?
Para o Brasil, a indicação de Ainda Estou Aqui é um marco: é a primeira vez que um filme brasileiro concorre na categoria de Melhor Filme. Já globalmente, filmes como Um Completo Desconhecido, Conclave e Nickel Boys provam que livros — sejam biografias, dramas históricos ou ficções especulativas — continuam a ser faróis para roteiristas e diretores. O Oscar 2025, ao celebrar essas obras, não premia apenas o cinema, mas também a palavra escrita, que segue inspirando, desafiando e transformando a cultura.