“Confesso que sou um leitor caótico. Para além das minhas leituras acadêmicas, faço leituras misturadas com releituras de obras que me são muito caras. Atualmente estou relendo o romance Tempo de espalhar pedras, de Estevão Azevedo, vencedor do prêmio São Paulo de literatura em 2015. Atrevo-me, na condição de simples leitor, a sugerir que esse romance tem tudo para compor o grupo de clássicos futuros da literatura brasileira. O repertório de personagens marcantes que compõem o universo dessa narrativa nos acompanha durante muito tempo. Um drama social que adquire sentido pleno e atemporal através de uma linguagem lapidar, de fraseado preciso e cortante, propriedades dos diamantes que estão no centro da trama. Vida, desejo e sonho concebidos a partir de uma linguagem seca, dura, áspera. Como a realidade em que esses personagens vivem, como a realidade que se tece a partir de suas próprias vidas desvalidas e precárias. Um romance que, se por um lado, traz reminiscências da literatura regionalista, reveste-se de uma contemporaneidade desconcertante. Porque, no final das contas, a opressão e a injustiça, o ódio e a cobiça, são os grandes óbices da vida, do desejo e do sonho, em qualquer latitude ou época.”

Tempo de espalhar pedras
Estevão Azevedo
Record
216 páginas
Fábio Andrade é escritor, doutor em Teoria da Literatura e professor da UFPE.