Affonso Romano de Sant’Anna, um dos mais importantes nomes da literatura brasileira contemporânea, faleceu nesta terça-feira (4), aos 87 anos, no Rio de Janeiro. O poeta, cronista, ensaísta e professor deixou um legado marcante para a cultura nacional, com mais de 60 livros publicados e uma trajetória dedicada à democratização da leitura e à reflexão crítica sobre o Brasil.
Nascido em Belo Horizonte em 1937, Sant’Anna formou-se em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também desenvolveu sua tese de doutorado sobre Carlos Drummond de Andrade, poeta que se tornaria uma de suas grandes referências. Sua carreira literária começou cedo, com a publicação de Canto e palavra (1965), seu primeiro livro, aos 28 anos. Desde então, consolidou-se como uma voz essencial da poesia, da crônica e do ensaio, transitando com maestria entre o lírico e o político.
Autor de obras emblemáticas como Que país é este? (1980), livro que se tornou um marco durante a ditadura militar, e Vestígios (2006), vencedor do Prêmio Jabuti de Poesia, Sant’Anna foi um intelectual engajado, capaz de traduzir em palavras os dilemas e as belezas do cotidiano. Sua escrita, ao mesmo tempo crítica e sensível, refletia seu profundo compromisso com a arte e a sociedade.
Além de sua produção literária, Sant’Anna teve uma atuação destacada como gestor cultural. Presidiu a Fundação Biblioteca Nacional entre 1990 e 1996, período em que implementou o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER) e modernizou o acervo da instituição. Sua dedicação à promoção da leitura e à formação de novos leitores foi um dos pilares de seu trabalho.
Como professor, lecionou em universidades no Brasil e no exterior, incluindo a Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos, e a PUC-Rio, onde foi um dos idealizadores do curso de pós-graduação em literatura brasileira. Sua influência se estendeu a gerações de escritores e artistas, como o compositor Fernando Brant e a poeta Adélia Prado, a quem apadrinhou em sua carreira literária.
Sant’Anna também foi um cronista prolífico, colaborando com veículos como o Jornal do Brasil, O Globo e Correio Braziliense. Suas crônicas, reunidas em livros como Fizemos bem em resistir e Mistérios gozosos, são testemunhos de seu olhar aguçado sobre o mundo e sua capacidade de transformar o cotidiano em arte.
Casado com a escritora Marina Colasanti, que faleceu em janeiro de 2024, Sant’Anna compartilhou não apenas a vida pessoal, mas também projetos literários, como o livro O imaginário a dois (1987). Juntos, formaram um dos casais mais influentes da literatura brasileira.
Nos últimos anos, Sant’Anna enfrentou o Alzheimer, doença diagnosticada em 2017. Mesmo diante dos desafios, sua obra permanece como um farol para a literatura e a cultura brasileiras. Affonso Romano de Sant’Anna deixa um legado que transcende as páginas de seus livros. Sua voz, sempre atenta aos rumos do país e às nuances da vida, seguirá ecoando como uma das mais importantes da literatura brasileira.