A série britânica Adolescência, disponível na Netflix, tornou-se um sucesso global ao retratar a história de Jamie, um jovem de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola. Criada pelo ator Stephen Graham (que também interpreta o pai do protagonista) e pelo roteirista Jack Thorne, a produção se destaca por sua narrativa intensa, explorando temas como masculinidade tóxica, violência juvenil e o impacto das redes sociais na vida dos jovens. A série de quatro episódios, cada um deles filmado em plano sequência, já atingiu 96,7 milhões de visualizações pelo mundo.

Esse fenômeno esquentou as discussões urgentes sobre a juventude na sociedade contemporânea. Para colaborar com a ampliação deste debate, convidamos Carolina Campos (professora há mais de 20 anos, advogada com mestrado em Políticas Públicas, estudou inovação educacional na escola de extensão da Universidade de Harvard, diretora executiva do Vozes da Educação) para sugerir obras que dialoguem com a questão e que possam ajudar pais, famílias e toda a sociedade. 

“A geração ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais”, de Jonathan Haidt, “Mal profundo: Como nosso corpo é afetado pelos traumas da infância e o que fazer para romper este ciclo”, de Nadine Burke Harris, e “A geração do quarto: Quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar”, de Hugo Monteiro Ferreira, são livros que, segundo ela, se complementam e podem ajudar a pensar sobre essa geração e também a buscar formas de melhor se relacionar com ela.

“Esses três livros são indicações para pais, educadores e médicos, enfim, pessoas que trabalham com crianças e adolescentes. É muito importante que os adultos conheçam os signos, as gírias, a linguagem e os códigos usados pelos adolescentes em sua comunicação, porque isso faz com que a gente consiga se aproximar deles. Eu acho que, nesse momento, tudo que a gente mais precisa é estar próximo desses adolescentes, é conseguir se comunicar de forma não violenta com eles. Estamos falando de uma geração que não tolera mais uma educação punitivista e autoritária. A gente está falando de uma geração que realmente deseja ser educada por meio da humanização e do respeito. Então, isso não significa não dar limite, isso significa educar de uma outra forma. A Geração Ansiosa fala sobre como as telas e a internet vêm moldando esses jovens. O Mal Profundo, por sua vez,  vai falar sobre como experiências adversas na infância e na adolescência podem afetar a vida adulta e o que a gente pode fazer para evitar isso e qual o papel da escola nesse contexto. E o último, A Geração do Quarto, vai refletir sobre esse comportamento dos adolescentes que se trancam no quarto e passam a viver o mundo deles lá dentro. Por que isso acontece? Como as famílias podem se conectar com esses jovens? Eu acho que são três livros que se complementam muito para pessoas que têm crianças e adolescentes em suas vidas, famílias, educadores, médicos, psicólogos, conselheiros tutelares, enfim, todas as pessoas que lidam com crianças”, detalha Carolina Campos.

Saiba mais sobre os livros:

 A Geração Ansiosa, de Jonathan Haidt

O psicólogo expõe a alarmante crise de saúde mental entre jovens, revelando como o excesso de telas e redes sociais substituiu a “infância baseada no brincar” por uma realidade de hiperconexão tóxica. O livro demonstra que essa mudança, iniciada nos anos 2010, desencadeou epidemia de ansiedade, depressão, privação de sono e desenvolvimento social prejudicado, com impactos distintos em meninas (afetadas pelas redes) e meninos (refugiados no virtual). Com dados contundentes, Haidt propõe um plano de ação urgente para pais, educadores e governos reverterem esse cenário, defendendo infâncias menos digitais e mais humanas. Leitura essencial para quem quer proteger as novas gerações deste colapso psicológico coletivo.

Mal Profundo, de Nadine Burke Harris

A pediatra revela como traumas infantis impactam a saúde física e mental na vida adulta, aumentando riscos de doenças como diabetes, cardiopatias e distúrbios do estresse. Baseado em um estudo com 17 mil pacientes, a obra mostra que adversidades na infância alteram sistemas biológicos de forma duradoura, com efeitos que podem persistir por décadas. A autora combina pesquisas científicas com casos reais de sua clínica em comunidades carentes, demonstrando a ligação entre experiências traumáticas e problemas crônicos de saúde. O livro oferece soluções inovadoras para profissionais da saúde, educadores e cuidadores, além de esperança para quem viveu infâncias difíceis. Uma leitura essencial para entender e combater os efeitos profundos do estresse tóxico precoce.

A Geração do Quarto, de Hugo Monteiro Ferreira

Revela o isolamento e o sofrimento psíquico de jovens brasileiros entre 11 e 18 anos que passam mais de seis horas diárias trancados em seus quartos, com graves dificuldades de comunicação e alto risco de comportamentos violentos. Baseado em pesquisas com 3.115 adolescentes de cinco capitais, o livro expõe problemas como cyberbullying, depressão e a falta de políticas públicas eficazes, enquanto critica o excesso de tecnologia e a ausência de vínculos afetivos. Com linguagem acessível, o autor – especialista em saúde mental juvenil – propõe uma reflexão urgente sobre práticas educacionais e familiares mais empáticas. A obra é um alerta para pais, educadores e terapeutas sobre os desafios da nova geração, marcada pelo isolamento digital e vulnerabilidade emocional. Indispensável para entender a complexidade da adolescência contemporânea no Brasil.