Estreou, no dia 11 de dezembro, a série “Cem Anos de Solidão”, uma adaptação do famoso romance do autor colombiano Gabriel García Márquez, que já vendeu mais de 50 milhões de cópias e foi traduzido para 40 idiomas. Composta por 16 episódios (oito já disponíveis e os demais ainda sem data de exibição), a série é dirigida por Laura Mora e Alex Garcia Lópes e tem atraído a atenção de críticos e fãs da obra literária.
“Cem Anos de Solidão” é considerado um dos pilares da literatura hispano-americana e do realismo mágico, publicado pela primeira vez em 1967. O romance conta a saga da família Buendía ao longo de várias gerações na fictícia vila de Macondo, abordando temas como solidão, poder, amor e a inevitabilidade do destino. A adaptação para a série se esforça para manter a essência dessa narrativa complexa, ao mesmo tempo que explora as nuances visuais e emocionais que o audiovisual possibilita. “Nosso esforço foi mostrar uma família muito real, colombiana, à qual acontecem coisas mágicas. E, ao redor disso, mergulhar os telespectadores em um universo onde se sentissem em Macondo”, disse Laura Mora à BBC News Mundo.
O investimento inicial da Netflix foi de US$ 50 milhões (R$ 298 milhões), utilizados para a construção de uma Macondo na Colômbia, terra natal do escritor, onde aconteceram todas as gravações. A produção também se dedicou a uma pesquisa detalhada sobre os costumes e tradição do país durante o século 19 e o início do século 20, tentando se manter fiel ao universo criado por Gabo.
A crítica internacional teve uma recepção variada em relação à série. Muitas análises ressaltam a riqueza visual da produção, destacando como a cinematografia e a direção se esforçam para capturar a atmosfera mágica e única de Macondo, bem como a profundidade dos personagens. Publicações renomadas, como “The Guardian” e “Variety”, comentaram sobre a dificuldade de adaptar uma obra tão densa e multifacetada, mas elogiaram os esforços da equipe criativa em respeitar o material fonte. Alguns críticos, no entanto, levantaram preocupações sobre a capacidade da série de transmitir integralmente a complexidade da narrativa original.
Entre as curiosidades, destaca-se que esta é a primeira adaptação de “Cem Anos de Solidão” para as telas. García Márquez, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1982, tinha receio de como seria feita a adaptação da obra, conhecida por sua profunda abordagem dos efeitos do tempo e da memória, que faz parte do inconsciente coletivo de muitos leitores na América Latina. “Prefiro que meus leitores continuem imaginando os meus personagens”, afirmou ele, em entrevista para uma rádio em 1991.
Só após o falecimento do escritor, em 2014, os filhos resolveram vender os direitos da obra para a Netflix em 2018. Segundo eles, em 1987, García Márquez havia sugerido que não acreditava que a obra poderia funcionar como um filme, mas sim como uma série com vários capítulos. “É uma experiência diferente e deve ser apreciada pelo que é, sem comparar constantemente com o livro. Para mim, são projetos-irmãos que se complementam”, disse Rodrigo García, um dos filhos de García Márquez e produtor executivo da série, durante o lançamento em Bogotá. E completou: “Gabo estaria assistindo à série, sem dúvida”.