Por Dani Costa Russo
O dia mais intenso da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) foi um sábado sem chuva, com sol a pino, ruas lotadas, mesas de debate com espaços disputados. Apesar do evento se encerrar no domingo, na véspera já é possível fazer um balanço de público, vendas, logísticas.
A programação da Casa Record atraiu cerca de 1,5 mil pessoas ao longo de três dias. A mesa mais concorrida foi a dos psicanalistas Christian Dunker, autor de “A arte de amar”, e Tatiana Paranaguá, de “Vínculo fantasma”. Nesta Flip, o ponto alto foi a cerimônia do Prêmio Recordista, criado para celebrar os autores da casa que atingiram vendas de 100 mil, 200 mil e 300 mil exemplares de um único título. Esta edição foi a que entregou a maior quantidade de troféus. Só Carla Madeira conquistou quatro: o Recordista de prata para “A natureza da mordida” e para “Véspera” e o de ouro e de platina para “Tudo é rio”, que já tinha conquistado o troféu prateado em 2022. Também foram agraciadas a baiana Elayne Baeta, pelos cem mil exemplares de “O amor não é óbvio”, e a mineira Adélia Prado, pelos cem mil de “Quando eu era pequena”.
“Foi uma enorme satisfação celebrar com nossos leitores e colaboradores três gerações diferentes de escritoras em Paraty. A quantidade de estatuetas entregues é um retrato do ótimo momento que a Record está vivendo, não só em termos de venda como também da diversidade de estilos”, analisa a vice-presidente do Grupo Editorial Record, Roberta Machado.
Uma das casas mais lotadas, a Estante Virtual apresentou 50 convidados em mesas. “A Flip democratiza o acesso à leitura, então é um evento que permite que mais pessoas conheçam e adquiram obras de diversos autores e editoras que, muitas vezes, são pequenas e menos conhecidas, proporcionando uma interação muito grande. Aqui a gente vê o autor que prestigia e tem a oportunidade de debater com ele. Nossa casa é uma das maiores do Centro Histórico, ainda assim lotou todos os dias, mesmo na quarta-feira, que é quando o público ainda está se habituando ao circuito da festa. Considero que a Flip, neste ano, foi um sucesso para nós”, relata o coordenador Leonardo Loio.
“Apesar da desorganização (ou organização perfeita para matar a existência das pequenas editoras e, logo, da bibliodiversidade), a Flip sempre será um lugar de celebração à escrita, leitura. Encontrar os autores e autoras da casa, que tanto se empenham para estar aqui e para pertencer, o balanço das ruas de pedras conquista, como sempre. Esvaziada, mas viva. Essa é a percepção mais pungente da Casa Urutau, viva”, conta Débora Rendelli, editora da Urutau.
O editor Rodrigo Rosp também considera a oportunidade de encontros um importante aspecto da festa. “Para nós da Dublinense, presente na Casa Paratodos, a Flip é um grande espaço de interação. A gente trabalha o ano inteiro isolados e aqui a gente tem um verdadeiro tsunami de encontros com pessoas do mercado, escritores, público, o que é fascinante, maravilhoso. A leitura é uma atividade isolada, quem escreve não vê quem tá lendo, e aqui isso deixa de existir nos dias de festa.”
Mais de 300 pessoas acompanharam as nove mesas de discussões organizadas durante três dias da Flip+CCR, abordando temas como urbanismo, mudanças climáticas, formas de narrar e contar histórias e jornalismo literário. Outras ações foram implementadas nessa parceria: “Oferecemos transporte gratuito, por meio de vans e barcas, para possibilitar que as comunidades ribeirinhas e quilombos do entorno de Paraty pudessem ter acesso à rica programação do festival. E, como complemento, promovemos uma ação de coleta seletiva para reduzir o impacto ambiental gerado, e também contribuir para a geração de rendas nas comunidades locais. Mais de 600 toneladas já foram arrecadas e que serão destinadas para Associação de Catadores e Catadoras de Paraty”, apresenta Jéssica Trevisan, gerente de Responsabilidade Social do Instituto CCR.
Dani Costa Russo é Jornalista e escritora. Criadora, curadora e editora do @seloauroras. Autora de Beijos no Chão e Cama Rainha. Colaboradora do Livronews na cobertura exclusiva da Flip 2024