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Flip 2024. Foto: Sara De Santis / Divulgação

FLIP 2024: diversidade e conexão com questões contemporâneas

A 22ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) encerrou sua edição de 2024 renovando, junto aos participantes e ao público, a experiência de um dos mais importantes encontros culturais do Brasil. Entre os dias 9 e 13 de outubro, reuniu aproximadamente 30 mil pessoas em Paraty (RJ), atingindo uma taxa de ocupação de 95% nas pousadas da cidade, segundo a Secretaria de Turismo. 

A edição homenageou o escritor João do Rio, conhecido por suas crônicas sobre a vida urbana no Rio de Janeiro, e apresentou 20 mesas de debates na programação oficial.

Com uma curadoria inclusiva, realizada por Ana Lima Cecílio, a Flip este ano foi marcada pela diversidade e conexão com as questões contemporâneas. Debates sobre políticas sociais, emergência climática, fake news e autoritarismo tiveram a participação de autores consagrados do Brasil e de outros países.

A mesa “Como enfrentar o ódio”, com Felipe Neto e Patrícia Campos Mello, foi um dos destaques da festa, discutindo os discursos de ódio na internet e a ascensão da extrema-direita. Neto destacou o papel transformador da ficção: “Através da arte e da leitura, criamos novos mundos e enxergamos o mundo de novas formas”. 

Outra mesa que atraiu a atenção foi a do escritor francês Édouard Louis, que expõe a luta de classes e a violência sexual narrando a própria vida nos conflitos com seus pais. “A ausência de liberdade se torna a possibilidade da emancipação”, disse o autor.

Felipe Neto em debate Como Enfrentar o Ódio, ao lado da mediadora Fabiana Moraes, na Flip 2024. Foto: Flip/Reprodução Youtube

A Flip também promoveu a acessibilidade, com audiodescrição em todas as mesas da programação oficial, transmitidas no auditório da praça principal. Foram também implantadas seis rotas de transporte público, que interligaram 19 comunidades de Paraty, facilitando o acesso da população local às atividades da festa. Apesar disso, houve muita dificuldade de locomoção pelas ruas da cidade nos momentos de chuva. Compostas por pedras irregulares, as vias ficavam escorregadias e tomadas pela lama.

Paralelamente aos debates, foram oferecidas sessões de cinema, mesas literárias, oficinas e rodas de conversa. A Flipinha e a FlipZona tiveram grande adesão, com mais de 5.500 pessoas participando das atividades destinadas às crianças, aos jovens e aos educadores. A Central Flipinha montada na Praça da Matriz, com os tradicionais Pés de Livro, oferecendo obras de editoras parceiras e atraindo 950 alunos de 29 escolas da região.

O mercado editorial também foi movimentado na edição de 2024. A Livraria da Flip, gerida no evento pela Livraria da Travessa, registrou a venda de 15 mil exemplares de livros, com destaque para obras de autores presentes no evento, como o senegalês Mohamed Mbougar Sarr e o brasileiro Jeferson Tenório, que lotaram os auditórios em suas mesas literárias. Em entrevista ao  Livronews, Tenório falou da censura que sua obra “O avesso da pele” sofreu e também sobre seu novo livro, “De onde eles vêm”, publicado pela Companhia das Letras. “Eu criei um personagem que eu gostaria de ter sido”, afirma o autor sobre o protagonista do romance. 

Um dos pontos altos da Flip foi a programação das casas parceiras. A casa da Estante Virtual  apresentou 50 convidados em mesas. “A Flip permite que mais pessoas conheçam e adquiram obras de diversos autores e editoras que, muitas vezes, são pequenas e menos conhecidas, proporcionando uma interação muito grande”, relata o coordenador Leonardo Loio. Outra casa concorrida foi a Flip+CCR, que reuniu mais de 300 pessoas em torno das mesas que abordaram temas como urbanismo, mudanças climáticas, formas de narrar e contar histórias e jornalismo literário.

A Casa Gueto, que reuniu quase 20 editoras no mesmo local, mais uma vez despontou como palco concorrido de lançamentos, premiações, mesas de debate e saraus à beira mar. “Foi resultado de um trabalho coletivo. Recebemos centenas de pessoas vindas de vários cantos do país para falar sobre livros e literatura”, afirma Eduardo Lacerda, da Editora Patuá, e organizador da casa. A Casa Gueto foi também a casa do Livronews. Abrigou um estúdio para a gravação de mais de 20 entrevistas com autores premiados, produtores e editores. Veja todas as entrevistas:

Na Casa Record, passaram cerca de 1,5 mil pessoas ao longo de três dias. A mesa mais concorrida foi a dos psicanalistas Christian Dunker, autor de “A arte de amar”, e Tatiana Paranaguá, de “Vínculo fantasma”. A editora entregou o Prêmio Recordista aos seus autores que atingiram vendas de 100 mil, 200 mil e 300 mil exemplares de um único título. “É um retrato do ótimo momento que a Record está vivendo, não só em termos de venda como também da diversidade de estilos”, analisa Roberta Machado, vice-presidente do Grupo Editorial Record.

Roberta Machado. Foto: Divulgação Record

Apesar do sucesso de crítica e de público, algumas questões de infraestrutura precisam de mais atenção da organização da Flip para as próximas edições. Uma delas é a falta de unificação da programação oficial com a programação das casas parceiras. Uma programação conjunta em um mesmo site ou aplicativo facilitaria a busca dos interessados pelo extenso conteúdo oferecido.

Outro ponto para melhoria é a falta de sinalização na cidade. Mesmo sendo distribuído um mapa impresso aos visitantes, não havia placas nas ruas indicando a localização das principais atrações e das casas parceiras. Para quem chegou de carro à Paraty, seja pela Serra da Bocaína ou pela Rio-Santos em suas duas direções, não havia indicações para Flip na entrada da cidade, dificultando a locomoção para o centro histórico e para pousadas ao redor de Paraty.

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