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Foto: Arnaldo Carvalho Especial para o RioMar Recife

João Suassuna e a exposição imersiva “O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso” 

Criador de personagens inesquecíveis para a cultura brasileira, como Chicó e João Grilo, Ariano Suassuna e sua obra podem ser vistos de maneira inédita, em mostra no Recife. Concebida como experiência sensorial com muita informação e cenografia, a exposição imersiva “O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso”, fica em cartaz no RioMar Shopping, na capital pernambucana, até 9 de março. 

Exposição Ariano no RioMar Recife. Foto: Arnaldo Carvalho Especial para o RioMar Recife

“A gente quis trazer, especialmente, o Ariano gênio como gente. Por isso que todos os espaços pensados foram ambientes para que a gente possa percorrer os amores de Ariano e, percorrendo cada um desses amores, todo mundo se enxerga, se reconhece e se identifica”, destaca João Suassuna, neto de Ariano Suassuna em conversa com o Livronews. João é um dos idealizadores da mostra, que ocupa mais de 1.200 metros quadrados no espaço de eventos do shopping e traz, pela primeira vez ao público, uma série de itens inéditos, como manuscritos, fotos raras e trechos de peças teatrais.

Os visitantes são levados a uma viagem pelas raízes da cultura popular brasileira e, ao longo de 13 salas, têm a chance de conhecer os múltiplos aspectos da vida e obra de Ariano, desde seu amor pela poesia e pelas tradições nordestinas até seu lado mais íntimo, por meio de objetos pessoais, como o traje que usava e a cadeira onde costumava se sentar para contar histórias. Dividida em cinco atos imersivos, a mostra leva os participantes a explorar o legado de um Ariano Suassuna que vai muito além do gênio literário.

O Livronews visitou a mostra e conversou com João Suassuna sobre o projeto.


Como surgiu a ideia inicial da mostra, tempos atrás, na Paraíba?

João Suassuna – A ideia surgiu inicialmente por Jader França (Fundador do Luzzco), que tinha o desejo de construir uma galeria para ser um ponto físico fixo, em João Pessoa, capital da Paraíba. Um local onde as pessoas pudessem ter acesso à cultura, a uma arte genuinamente nordestina e que se comunicasse com todo o Brasil e o mundo. O grande sonho dele era realizar uma experiência imersiva vinculada a, talvez, o maior autor e defensor do nosso país, do nosso povo, por intermédio da cultura e da arte: Ariano Suassuna. Então, ele me procurou e, em concomitância à construção dessa galeria, já se começou o desenho para a criação da experiência imersiva vinculada a meu avô. 

João Suassuna é neto de Ariano, e organizador da exposição itinerante.

Foi longo o processo de concepção da mostra, de um artista de obra tão vasta?

João Suassuna – Foram meses de muitos debates, conversas, reuniões, construções e idealizações. Em abril de 2024, se deu efetivamente a abertura da experiência imersiva “O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso”, ficando em cartaz até setembro em João Pessoa. Nossa ideia sempre foi começar pela Paraíba, por onde a história de Ariano começou, respeitando essa linha cronológica. Depois a gente veio para o Recife, que é para onde Ariano vem também, devido às circunstâncias políticas. Ele vem com toda a família para Pernambuco, aqui ele estuda, conhece Dona Zélia, se apaixona e constitui família. Daqui, nunca mais ele saiu.

Uma das coisas que fica bem evidente é a importância que a relação dele com Zélia tem para sua vida. 

João Suassuna – Foi destacado sempre, ao longo de toda a vida de Ariano e de Zélia. O que a gente fez foi só dar continuidade, realçando isso. Em todas as aulas-espetáculo, Ariano fazia homenagens a Zélia, dedicava todas as aulas a ela. E eternizou esse amor por um soneto belíssimo chamado A Mulher e o Reino, no qual ele começa dizendo: “Oh! Romã do pomar, relva esmeralda”… Se a gente for ver, inclusive, a palavra Romã, de trás pra frente, simboliza o amor. Então, Ariano, que até a adolescência, início da idade adulta, era uma pessoa mais fechada, mais calada, diz que foi Zélia quem fez com que o seu coração e sua alma se desatassem para a vida e para a alegria do mundo. E complementava dizendo: “foi ela quem permitiu a irrupção em minha vida do riso a cavalo e do galope do sonho”. É um amor verdadeiro, que inspira todos nós. 

Exposição Ariano no RioMar Recife. Foto: Arnaldo Carvalho Especial para o RioMar Recife

Como foram pensados cada um dos espaços?

João Suassuna – Uma coisa que a gente colocou como fio norteador foi exatamente que se pudesse trazer Ariano para perto das pessoas. O Ariano que eu pude conviver ao longo de toda a minha vida. Eu costumo dizer que, durante os anos iniciais da minha vida, Ariano Suassuna não era Ariano Suassuna para mim, era simplesmente vovô Ano. Depois de um tempo, já na escola, estudando, indo aos jogos de futebol, vendo toda aquela aclamação do povo em relação a Ariano, a nossa família foi tendo uma dimensão desse tamanho. Eu comecei a perceber que Ariano era um avô diferente dos demais. Na verdade, ele seria um pouco o avô de todas essas pessoas, também. Todo mundo tem um pouco de Ariano como seu avô. Então trouxemos isso e, também, o Ariano pessoa pública, o escritor, o orador, o Ariano das aulas-espetáculo. Mas a gente quis trazer, especialmente, o Ariano gênio como gente. Por isso, todos os ambientes foram pensados para que a gente possa percorrer os amores de Ariano, e percorrendo cada um desses amores, todo mundo se enxerga, se reconhece e se identifica.

Como você acha que Ariano encararia esse recorte sobre sua vida e obra?

João Suassuna – Trago aqui um pensamento do próprio Ariano. Vovô disse uma coisa muito bonita: que o homem não nasceu pra morte, o homem nasceu pra imortalidade. A morte foi um acidente de percurso. E dizia que a arte é uma espécie de protesto contra a morte. Eu acredito que ele está muito feliz com a experiência imersiva “O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso”, porque essa experiência é uma das formas de a gente mostrar que ele alcançou essa imortalidade por intermédio de sua obra. Ariano se tornou universal e atemporal. Ariano está vivo, atual e pulsante e vai estar sempre conosco.

Como tem sido a recepção do público?

João Suassuna – Tem sido uma coisa muito linda o que a gente tem vivido desde abril do ano passado, quando começamos, na Paraíba. A Paraíba era para ter ido até julho e terminou indo até setembro. Aqui no Recife, começamos no final de novembro, inicialmente íamos ficar até 31 de janeiro, já foi anunciada agora a prorrogação, por pedido do público, e vamos ficar até 9 de março. Tem sido muito bonito a gente ver esse público circulando. A gente quer resgatar nas pessoas a alegria de todos nós sermos brasileiros. Nós acreditamos no nosso país, no nosso povo, na nossa gente, na nossa cultura e na nossa arte. 

Qual a mensagem que você acredita que fica para o visitante, após viver essa imersão? 

João Suassuna – Eu queria fazer uso, aqui, do próprio título que nós escolhemos, toda equipe que integra essa realização, “O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso”. A gente tenta trazer todas essas características, toda essa pluralidade, toda essa diversidade, todas essas facetas encantadoras do universo de Ariano Suassuna, meu querido e amado avô. Todo título é difícil de ser escolhido, porque a gente quer dar o recado do que quer passar e chamar o público. Mas escolher um título que trouxesse uma característica de uma pessoa tão multifacetada, tão gigante em todos os aspectos, era difícil. Escolhemos uma fala dele como norte. Ou seja, a síntese do que é Ariano, do que Ariano nos inspira. Quando foi perguntado se ele era otimista ou pessimista, respondeu: “Os otimistas geralmente são pessoas ingênuas. Os pessimistas tendem a ser pessoas amargas. Prefiro ser um realista esperançoso, sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito longínquo, mas sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça social pelo mundo todo”. Então, quando ele disse que é para um futuro muito longínquo, traz a compreensão da realidade. Ele não nega as dificuldades da nossa realidade, da nossa construção histórica enquanto país, enquanto nação, mas ele aponta para a esperança. Eu costumo dizer que esse sol de Deus está nas mãos de Deus, de quem tem fé, está nas mãos de Ariano, mas está especialmente, também, nas mãos de todos nós. Sejamos todos realistas e esperançosos e, cada um na sua medida, na sua possibilidade, fazer a sua parte, para a gente poder alcançar o caminho que a gente merece, como nação e como povo.

A exposição segue para outra cidade ao finalizar sua temporada no Recife?

João Suassuna – Uma coisa que a gente colocou na cabeça desde o início é que pelo menos duas a gente teria que cumprir. E por motivo afetivo, a gente teria que estar na Paraíba, onde Ariano nasceu, onde Ariano, inclusive, construiu toda a sua criação artística. O grande escritor russo Tolstói dizia: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. A aldeia que Ariano sempre pintou foi Taperoá, mas pintando Taperoá, ele terminou por pintar todo o Sertão do Cariri, toda a Paraíba, todo Pernambuco, todo o Nordeste, todo o Brasil, e terminou por pintar todo o mundo. Então, a gente já cumpriu essa missão que nos foi autoimposta.  Agora, convites e essa vontade de levar a chama de Ariano adiante vão nos dizer para onde e se a gente vai para mais cidades e estados. Vamos ver.


Serviço:
Exposição “O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso”
Local: RioMar Recife – Espaço de Eventos – Piso L3 (mesmo nível da Praça de Alimentação)
Data: Em cartaz até 9 de março de 2025
Horário: Segunda a sábado, das 9h às 22h | Domingos e feriados, das 12h às 21h
Ingressos: R$ 35 (meia), R$ 70 (inteira), R$ 175 (Combo Família) de segunda a quinta | R$ 40 (meia), R$ 80 (inteira), R$ 200 (Combo Família) de sexta a domingo
Classificação etária: Livre
Ingressos à venda na plataforma Fever (http://bit.ly/4evXSJD) e no app RioMar Recife

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