Por Yellow
A escritora Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti, imortal da Academia Pernambucana de Letras, foi agraciada com o prestigioso Prix de la Littérature Gastronomique, concedido pela Academia Internacional de Gastronomia. A cerimônia aconteceu no último dia 18 de novembro, na Casa de Galeotas, em Lisboa, e contou com a presença de nomes como Carlos Fontão de Carvalho, presidente da Academia Portuguesa de Gastronomia, e José Bento dos Santos, presidente da Academia Internacional de Gastronomia. A honraria celebra sua obra A Mesa de Deus – Os Alimentos da Bíblia, lançada pela editora portuguesa Quetzal no início de 2023.
O livro é fruto de dez anos de pesquisa detalhada e reúne um panorama histórico e antropológico dos alimentos citados no livro primordial do cristianismo. A autora explora os utensílios, rituais e simbologias desses elementos, revelando como a alimentação foi parte essencial das práticas espirituais e sociais das civilizações retratadas no texto sagrado. Segundo Lecticia, a obra inicialmente buscava atrair o interesse de teólogos e estudiosos, mas acabou conquistando um público mais amplo por abordar a história da alimentação humana de forma acessível e envolvente.
Durante o processo de criação, Lecticia teve o cuidado de desvincular a análise de qualquer viés religioso específico, destacando o alimento como um símbolo universal de união e partilha. Ela ressalta que a Bíblia trouxe uma visão inovadora sobre o papel da mesa e do alimento nas sociedades, algo especialmente presente no Novo Testamento. “Perceber a mesa como um forte alicerce das sociedades, simbolizando união, comunhão e partilha, foi uma grande novidade da Bíblia”, comenta a autora, que se emocionou com o reconhecimento internacional.
A obra não apenas impressionou leitores, mas também recebeu ampla aclamação da crítica e da academia. A Mesa de Deus consolida o legado de Lecticia como uma das principais vozes literárias na relação entre cultura, história e gastronomia. Além desse trabalho, a autora já publicou títulos como Açúcar no Tacho, O Negro Açúcar e História dos Sabores Pernambucanos, reforçando sua contribuição ao estudo das tradições alimentares no Brasil e no mundo.
Livronews indica
O ato de comer não é apenas uma necessidade fisiológica, mas uma construção social, que contém muito da cultura, dos costumes, crenças e das relações, dentro de uma comunidade. Por esse motivo, a gastronomia tem servido como inspiração para muitos livros memoráveis, que vão desde romances que usam a comida para acessar memórias afetivas até investigações minuciosas sobre iguarias conhecidas e consumidas mundialmente.
Abaixo, confira alguns títulos notáveis do gênero literário.
Sons & Sabores, Morena Leite, Moreno Veloso, Senac Rio
As receitas da chef Morena Leite põem a essência do país à mesa, enquanto Moreno Veloso relaciona a comida à música popular.
Memórias da cozinha de vovó: Histórias de encantamentos e afetos, Rai Soares, Jandaíra
A partir de memórias resgatadas da convivência com sua avó e da relação da mais velha com a cozinha, o autor faz homenagem ao espaço como um local de autonomia, afeto e confluência de saberes ancestrais.
Cinco anos em Lyon: Uma aventura na cozinha francesa, de Bill Buford, Companhia das Letras
Um relato pessoal, cativante e divertido do fundador da revista literária Granta, que deixa a vida em Nova York para se arriscar como cozinheiro nas cozinhas francesas.
O império do ouro vermelho: A história secreta de uma mercadoria universal, de Jean-Baptiste Malet, Vestígio/Grupo Autêntica
Dos confins da China à Itália, da Califórnia ao Gana, em uma investigação única e original que durou dois anos, o jornalista francês revela os meandros da produção global de concentrado de tomate e os subprodutos do capitalismo: máfias, poluição, exploração dos trabalhadores e especulação financeira.
O livro de receitas de Eva Thorvald, de J. Ryan Stradal, Rocco
Biografia da celebrada chef de cozinha, por meio de relatos de diferentes personagens sobre a protagonista e de algumas de suas receitas favoritas.
Bolo preto, de Charmaine Wilkerson, Paralela
Um suspense envolvendo uma receita tradicional caribenha, uma morte súbita, brigas entre irmãos e muitos segredos, familiares e culinários.
O maravilhoso bistrô francês, de Nina George, Record
Um romance de reinvenção e autoconhecimento, através da cozinha, da mesma autora do sucesso A Livraria Mágica de Paris.
A descoberta da currywurst, de Uwe Timm, Dublinense
Como explicar as origens de um prato tipicamente alemão… com tempero indiano? A curiosidade do autor o leva a um asilo, onde a suposta criadora do prato revela uma história de amor e uma aventura surpreendente na Segunda Guerra Mundial.
Um banquete para Hitler: A morte está servida, de V. S. Alexander, Gutenberg
Por falar em Segunda Guerra, esse romance imagina o cotidiano de uma das provadoras de comida de Adolf Hitler, que mantinha constante vigilância, para não ser envenenado. Em meio a muitas conspirações, detalhes históricos e curiosidades gastronômicas.
Morder um pêssego: Memórias e aventuras nos bastidores das badaladas cozinhas do Momofuku, de David Chang e Gabe Ulla, Companhia das Letras
Autobiografia do divertido e autodepreciativo chef americano, apresentador do programa Hora do jantar, da Netflix, em que tenta relatar e entender seu sucesso repentino e astronômico.
Como água para chocolate, de Laura Esquivel, BestBolso
Tita, a protagonista deste novo clássico mexicano, tem sua vida relacionada aos pratos que afetuosamente prepara. O tempero combina a revolução mexicana no início do século XX com o realismo fantástico marcante na literatura latino-americana. Uma obra para ser apreciada em todos os sentidos. Esta história já foi adaptada para o cinema em 1994, e, este ano, estreou como série na HBO.
Comer, rezar, amar, de Elizabeth Gilbert, Objetiva
Como o título indica, comer é responsável por 33,3333% da motivação para a criação deste bestseller. A autora conta como, após uma separação, mudou sua vida com uma série de viagens em que se reencontrou. (Para comer, foi à Itália.)
Tomates verdes fritos no café da Parada do Apito, de Fannie Flag, Globo Livros
Uma narrativa comovente situada em um café de beira de estrada em um vilarejo isolado do Alabama. Através de conversas da protagonista com personagens que lembram de histórias do início do Século XX, comparando preconceitos sofridos no passado e no tempo atual. As receitas do café dão um toque nostálgico à narrativa.
O que Einstein Disse a Seu Cozinheiro 1 e 2, de Robert L. Wolke, Zahar
Em uma linguagem acessível e divertida, o autor oferece um passeio pelas técnicas culinárias, com uma abordagem de professor de física.
Cozinha Confidencial, de Anthony Bourdain, Companhia das Letras
Motivado pelo mais puro diletantismo, Bourdain, chef de um bistrô novaiorquino, escreveu um bem-humorado artigo, revelando segredos das cozinhas. Por sorte, sua mãe conhecia David Remnick, editor da revista The New Yorker, e fez com que o texto chegasse a sua mesa. Graças a esta primeira publicação (“Don’t eat before Reading this”, The New Yorker, 1999), o mundo veio a conhecer um dos autores mais divertidos e influentes do início deste século. Cozinha Confidencial é o primeiro e melhor dos seus livros. Depois, ele ganharia destaque e fama como apresentador de duas séries de viagem e gastronomia na TV. Politicamente engajado, inteligente e engraçado, o autor sobreviveria a uma série de vícios, antes de sucumbir por suas próprias mãos em 2018, vítima de um coração partido.
Yellow é Luiz Eduardo Cerquinho Cajueiro, recifense, designer, programador, músico, Mestre em Ciências da Linguagem e parte da equipe Livronews.