No coração de Porto Alegre, a Casa de Cultura Mario Quintana abriga um tesouro que transcende o tempo: o quarto onde o poeta Mario Quintana viveu por 12 anos, entre 1968 e 1980. Localizado no antigo Hotel Majestic, hoje transformado em um espaço cultural vibrante, o quarto do poeta foi meticulosamente reconstruído e preservado, oferecendo aos visitantes um vislumbre íntimo da vida e da rotina de um dos maiores nomes da literatura brasileira.
O ambiente, localizado no segundo andar da Casa de Cultura, foi organizado sob a coordenação de Elena Quintana, sobrinha do poeta. A reconstrução do quarto é fiel aos detalhes da época em que Quintana ali residiu, com móveis e objetos pessoais que pertenceram ao escritor. Apesar de não ser possível entrar no espaço, os visitantes podem observá-lo através de um espelho, que reflete a simplicidade e o charme do refúgio criativo do poeta.
O quarto é modesto, mas repleto de significados. Uma cama de casal, uma mesinha com cadeiras, um frigobar e uma bandeja com fotos de Bruna Lombardi e Ava Gardner – musas que inspiraram Quintana – compõem o cenário. Livros espalhados, cigarros na mesa de cabeceira e chinelos no chão completam a atmosfera que parece congelada no tempo, como se o poeta pudesse retornar a qualquer momento.
Ao lado do quarto, uma máquina de escrever utilizada por Quintana e um exemplar autografado de um de seus livros estão expostos, junto a uma instalação de “cataventos” que homenageia seu famoso poema Rua dos Cataventos. Nos corredores, fotos do poeta e trechos de seus versos colados nas janelas convidam os visitantes a mergulharem em sua obra e em sua história.
Mario Quintana, nascido em Alegrete (RS) em 1906, foi um dos poetas mais queridos e influentes do Brasil. Além de sua vasta produção literária – que inclui mais de 20 livros, como A Rua dos Cataventos (1940) e Velório sem Defunto (1990) –, Quintana foi jornalista e tradutor, tendo levado ao português obras de autores como Marcel Proust e Virginia Woolf. Apesar de sua importância, o poeta foi injustiçado pela Academia Brasileira de Letras (ABL), que o recusou por três vezes. Quintana, com seu humor característico, recusou-se a tentar uma quarta vez, afirmando que a instituição estava “tão politizada” que “só dá ministro”.
A Casa de Cultura Mario Quintana, além de preservar a memória do poeta, é um espaço dinâmico dedicado às artes. O antigo Hotel Majestic, inaugurado em 1923 e transformado em patrimônio histórico na década de 1980, hoje abriga salas de cinema, teatro, bibliotecas, exposições e oficinas culturais. O quarto de Quintana, no entanto, é o coração simbólico do local, um lugar onde a poesia parece ecoar nas paredes.
Para os admiradores de Quintana, visitar o quarto é uma experiência emocionante. É como entrar em contato direto com o homem por trás dos versos, com sua simplicidade, seu humor e sua paixão pela literatura. O espaço não apenas homenageia o poeta, mas também inspira novas gerações a descobrirem sua obra e a importância de seu legado.
Como o próprio Quintana escreveu: “Fere de leve a frase / E esquece / Nada convém que se repita / Somente em linguagem amorosa agrada / A mesma coisa cem mil vezes dita”. No quarto do poeta, as palavras ganham vida, e a memória de Mario Quintana permanece viva, celebrada por todos que ali passam.