“Oswald de Andrade: Mau selvagem” explora a vida de um dos autores mais importantes da literatura brasileira, apresentando suas múltiplas facetas além do ativismo modernista. A biografia de Oswald de Andrade, escrita pelo jornalista Lira Neto e publicada pela Companhia das Letras, acaba de chegar às livrarias. Na quarta, 19 de fevereiro, o autor participa de um bate-papo com Manuel Costa Pinto, na Livraria da Vila, em São Paulo, a partir das 19h.
José Oswald de Sousa de Andrade nasceu em 11 de janeiro de 1890, na capital paulista, filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e de Inês Henriqueta Inglês de Sousa de Andrade, uma família rica e aristocrática paulistana. Formou-se advogado na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1919, e, poucos anos depois, tornou-se um dos principais protagonistas do modernismo brasileiro, ao lado de Mário de Andrade, ao idealizar a Semana de Arte Moderna de 22
A obra se fundamenta em uma extensa pesquisa encabeçada por Lira Neto (autor de outras biografias importantes), que se dedicou à leitura atenta de cartas, diários e escritos pessoais de Oswald. O biógrafo apresenta esse ícone do modernismo nacional desde a infância, revelando como ele usou o escárnio para se afirmar frente aos colegas que o hostilizavam. A narrativa aborda sua transformação de um menino inibido em um jovem sarcástico e desregrado, descrito como alguém retraído que usou o humor ácido para sublimar essa característica.
A face mais conhecida de Oswald é exatamente o período da Semana de Arte Moderna, mas Lira Neto defende que é preciso ampliar esse olhar. “É importante resgatar a sua obra. Ela fugia do padrão. Do ponto de vista da linguagem e das ideias, Oswald era um sujeito indomável, não obedecia às regras gramaticais, não adaptava a sintaxe convencional”, diz. Uma figura contraditória, que não hesitava em mudar de opinião ou em combater ideias que antes defendia. Sua dualidade como anarquista e devoto de Deus, burguês e comunista, apaixonado e adúltero, é destacada, mostrando sua presença constante no debate público.
Lira Neto, em sua abordagem de estilo cinematográfico, narra a trajetória de Oswald, que, apesar de herdeiro de uma fortuna imobiliária, enfrentou dificuldades financeiras na velhice, dependendo de agiotas e casas de penhores para sustentar sua família. A biografia revela a vida de um autor que viveu intensamente, imerso no hedonismo e na dissipação. Oswald de Andrade também aparece como um profeta não reconhecido em vida, cuja obra só foi valorizada após sua morte, em outubro de 1954. Seu legado influenciou várias manifestações artísticas no Brasil, incluindo a Poesia Concreta, o Teatro Oficina e a Tropicália.
Além da biografia, a Companhia das Letras publicará nove títulos de Oswald de Andrade, incluindo os manifestos Antropofágico e Poesia Pau Brasil, textos que marcaram o modernismo brasileiro, além de poesias, romances, artigos, conferências e um livro de memórias. As publicações visam oferecer uma visão abrangente do pensamento e da contribuição de Oswald à literatura e à cultura brasileira, marcando os 70 anos da sua morte.
OCUPAÇÃO
Ainda para celebrar o nome de Oswald, 70 anos após a sua morte, segue em cartaz, até 23 de fevereiro, no Itaú Cultural, em São Paulo, a Ocupação Oswald de Andrade, inaugurada em outubro de 2024. Mais de 160 itens, entre recortes de jornais, primeiras edições de seus livros, manuscritos e datiloscritos originais de livros, peças, poemas e artigos, fotos de família e pessoais, vídeos com depoimentos de estudiosos de seu trabalho, entre outros compõem a mostra, que teve consultoria de Lira Neto.
Oswald de Andrade: Mau selvagem
Lira Neto
Companhia das Letras
528 páginas