No episódio 07 do Podcast Livronews, mediadores literários Carol Casati (Encruzilinhas), Manuel da Costa Pinto (programa Entrelinhas) e Rodrigo Casarim (colunista do UOL) se reuniram com Fábio Lucas para discutir o papel essencial da mediação no universo dos livros. O bate-papo começou questionando os desafios de falar sobre literatura em um país que ainda está em processo de se consolidar como uma nação de leitores. Esse ponto central guiou as reflexões do trio, que trouxe suas experiências na mediação entre leitores e autores.
Manuel da Costa Pinto, crítico literário, ressaltou o impacto crescente das festas literárias, como a Flip, e das redes sociais no modo como os livros e autores são discutidos no Brasil. Segundo ele, “o foco passou a ser cada vez mais nos autores, e menos nas obras em si”. Ele apontou que a biografia dos escritores, suas opiniões e histórias pessoais têm ocupado um lugar central nas discussões literárias contemporâneas.
Rodrigo Casarim, jornalista e mediador de leituras, acrescentou que essa mudança no foco reflete uma maior conexão entre autores e seus públicos. “Hoje, com as redes sociais, você pode falar diretamente com o escritor”, afirmou. Essa proximidade transformou a relação autor-leitor, antes intermediada apenas por críticos literários e eventos formais. Essa mudança, de acordo com Casarim, trouxe uma nova dinâmica para as discussões sobre livros, com mais acesso às narrativas pessoais dos autores.
Carol Casati, que também atua como mediadora em eventos literários, destacou a importância de humanizar o escritor para que o leitor se aproxime da obra. “Quando você entende a trajetória de vida de um autor, sua obra ganha uma dimensão muito maior”, explicou. Ela ainda refletiu sobre o papel da mediação em promover o acesso ao conhecimento literário de forma mais inclusiva, ressaltando que mediadores precisam criar pontes, principalmente para novos leitores.
Um dos temas mais debatidos foi o declínio da figura do crítico literário tradicional nos meios de comunicação de massa. Manuel lamentou que a crítica em jornais e revistas esteja perdendo espaço. “Com a autopublicação e o alcance das redes, muitos escritores conseguem levar suas obras diretamente ao público sem passar pelo crivo editorial”, disse. Ele pontuou que, embora isso possa ser uma vantagem para alguns, a ausência de uma curadoria literária pode enfraquecer a qualidade das discussões.
Rodrigo questionou esse movimento, afirmando que, mesmo com o alcance digital, faltam mediadores qualificados que ofereçam leituras críticas e aprofundadas das obras. “As redes permitem que todos falem sobre livros, mas será que estamos explorando as obras em sua profundidade? É aí que entra o trabalho do mediador como essencial”, comentou. Para ele, o mediador não apenas aproxima o leitor do livro, mas provoca reflexões mais elaboradas.
A discussão também se voltou para o papel das festas literárias no Brasil, que são vistas como grandes plataformas para a difusão da literatura. Carol lembrou que as festas criam momentos de troca entre autores e leitores de maneira única. “Eventos como a Flip permitem que o público tenha contato direto com os autores, o que torna a experiência de leitura muito mais rica”, afirmou. No entanto, todos os participantes concordaram que esses eventos precisam se expandir para além das grandes cidades, atingindo também comunidades menores.
Por fim, o episódio terminou com uma reflexão sobre a responsabilidade do mediador literário. “Nosso trabalho é mais importante do que nunca, porque ele vai além de recomendar livros. Nós temos o papel de garantir que o leitor entenda o contexto e as diversas camadas da obra”, concluiu Manuel. A mediação literária, segundo os convidados, é uma ferramenta fundamental para democratizar a leitura e formar novos leitores, especialmente em tempos de saturação de informações.
