A nona edição do Prêmio Kindle de Literatura coroou “O Ano do Nirvana”, de Walther Moreira Santos (foto), como grande vencedor, marcando mais um capítulo na trajetória desta iniciativa importante para o cenário literário brasileiro. O anúncio, feito em fevereiro, revelou o trabalho de um autor que já havia sido finalista na edição anterior com “O Piloto”, demonstrando a consistência de sua produção literária.
“Aos quinze anos venci um concurso da Academia Pernambucana de Letras, Prêmio Gervásio Fioravante. Quando fui receber o cheque, fiquei tão honrado em conhecer os acadêmicos e em saber que havia sido lido”, conta Walther Moreira Santos sobre seus primeiros passos no campo da literatura. Essa experiência marcante parece ter definido seu caminho. “A Hilda Hilst, com quem troquei cartas, tem uma frase muito boa: ‘Quando me entendem, fico besta.’ Meu sentimento é o mesmo, é um assombro ser compreendido, um assombro bom”.
O prêmio, uma iniciativa da Amazon Brasil em parceria com o Grupo Editorial Record, TAG Livros e Audible, recebeu mais de 2.500 inscrições nesta edição. Ricardo Perez, líder do negócio de livros da Amazon no Brasil, explica a importância da iniciativa: “O Prêmio Kindle de Literatura tem sido um sucesso ao longo desses anos e se consolidado cada vez mais no cenário literário nacional. A longevidade do prêmio reforça o compromisso de longo prazo da Amazon com o Brasil e com o desenvolvimento da literatura e pluralidade de vozes”.
Ele lembra que ao longo desses nove anos, já foram reconhecidos talentos de diversas regiões do país, gerando oportunidades diversas. Renan Silva, vencedor do 8º Prêmio Kindle de Literatura com a obra “A Voz que Ninguém Escutou”, por exemplo, terá sua obra adaptada para um filme. “Nós acreditamos que a leitura é um pilar fundamental para a disseminação de cultura e conhecimento, e por meio de nossas premiações como o Prêmio Kindle de Literatura, o Prêmio Amazon de Literatura Jovem e o agora recém-lançado Prêmio Kindle Vozes Negras, os autores e autoras independentes enxergam uma oportunidade de reconhecimento, e nós conseguimos ajudar a trazer à tona diversos talentos, oferecendo visibilidade às suas obras publicadas no Kindle Direct Publishing”, destaca.
O Kindle Direct Publishing (KDP) tem sido fundamental neste processo. Em 2023, o KDP contabilizou mais de 300 mil obras publicadas no Brasil. “Minha primeira experiência com autopublicação foi com a novela ‘O Piloto’, por conta do Prêmio Kindle. É algo revolucionário, não só pela facilidade na publicação, mas também porque é possível saber em tempo real quantos livros vendemos, além de uma prestação de contas transparente. É algo que amplia as possibilidades para o livro e a leitura”, diz Walther, cujo primeiro livro, “Dentro da Chuva Amarela”, foi publicado em 2000, pela Geração Editorial, somando, de lá para cá, mais de 60 obras publicadas.
O Ano do Nirvana
A obra vencedora, escrita por Walther quando ele tinha apenas 20 anos, oferece um olhar cru sobre os anos 1990 no Brasil. O autor descreve: “No texto aparecem citações a sociólogos que eu estava estudando na época, o som estridente da banda Nirvana, as longas filas de desempregados, o neoliberalismo do governo Fernando Henrique Cardoso privatizando tudo e nos vendendo a promessa de que, depois dessas privatizações, seríamos felizes para sempre”.
Sobre o processo criativo e as expectativas, Walther adota uma postura filosófica: “Um dos maiores mistérios da vida é esse, não saber o que irá ocorrer com um livro depois de impresso e lançado. A melhor atitude sempre é não ter expectativa alguma – Buda foi muito sábio dando esse conselho”. Atualmente, ele já trabalha em um novo projeto: “Meu trabalho termina quando coloco um ponto final num texto, o resto é Destino. No momento estou escrevendo um livro radicalmente diferente e toda minha atenção está nisto”.

Ricardo Perez, líder do negócio de livros da Amazon no Brasil e Adriana Alcântara, diretora-geral da Audible no Brasil
O poder do áudio
A Audible, que participa do prêmio desde sua primeira edição em 2017, tem um papel crucial na ampliação do alcance das obras premiadas. Adriana Alcântara, diretora-geral da Audible no Brasil, explica: “A partir da quinta edição ampliamos a premiação, contemplando todos os cinco finalistas com a adaptação de suas obras em áudio, sempre que o autor tem os direitos de áudio da obra”.
Sobre o impacto dos audiolivros, Adriana é enfática: “Com o audiolivro, mais leitores (e ouvintes) têm a oportunidade de conhecer novas obras, podendo escutá-las na íntegra, enquanto realizam outras atividades cotidianas, como no deslocamento para casa, durante a prática de exercícios físicos ou tarefas domésticas”. A plataforma já produziu mais de 1.700 audiolivros no Brasil, gerando mais de 16.600 horas de conteúdo. “Nosso objetivo é seguir ampliando e enriquecendo nosso catálogo, oferecendo para a audiência local o que existe de melhor na literatura em formato de áudio e nas vozes de um elenco bastante robusto”, ressalta.
O futuro do prêmio
Cassiano Machado, diretor editorial do Grupo Record, reflete sobre o papel do prêmio: “Desde sua criação, o Prêmio Kindle de Literatura tem se prestado com louvor a uma das tarefas mais nobres no ecossistema literário, a de oxigenar os caminhos da ficção nacional”. Essa oxigenação se dá não apenas pela descoberta de novos talentos, mas também pela diversidade de vozes e temas que o prêmio tem revelado ao longo de nove edições. Para Walther Moreira Santos, o prêmio representa mais do que um reconhecimento pessoal: “É uma história que jamais seria publicada se não fosse o Prêmio Kindle de Literatura porque está fora do que está sendo publicado e incensado hoje”.
“Acreditamos que o KDP contribui em nossa missão de difundir cada vez mais a literatura no país. A partir disso, permite que uma base maior de autores possa se conectar de forma rápida, fácil e gratuita com seus leitores, expandindo a diversidade da oferta de livros e democratização da leitura no país. Esse ciclo estimula cada vez mais a produção de obras por autores independentes e consequentemente, a oferta de obras literárias para os leitores. Sabemos que nem sempre é simples ultrapassar a barreira da publicação via editoras e o KDP possibilita essa democratização da escrita”, sintetiza Ricardo Perez.