O filme brasileiro Ainda estou aqui, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, é o primeiro a ser indicado na categoria de Melhor Filme no Oscar. No dia 2 de março o Brasil acompanhará a cerimônia de entrega das premiações, torcendo em clima de Copa do Mundo. Ele é baseado no livro autobiográfico homônimo, que conta a história real da família do autor Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens Paiva, ex-Deputado Federal que foi sequestrado e “desaparecido” pela ditadura do regime militar brasileiro, em 1971.
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Marcelo, então, é aquele único filho menino que aparece no filme, e que, mais tarde, aparece de cadeira de rodas. Para quem não conhece, aqui vai um pequeno resumo da vida e das principais obras dele:
Nascido em 1959, em São Paulo, Marcelo construiu uma carreira marcada por obras que misturam autobiografia, crítica social e um toque de humor ácido. Sua trajetória é profundamente influenciada por um evento trágico: a morte de seu pai, o deputado Rubens Paiva, durante o regime militar brasileiro. Esse episódio não só moldou sua visão de mundo, mas também se tornou um tema recorrente em sua escrita.
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Paiva estreou na literatura em 1986 com Feliz Ano Velho, um livro que se tornou um fenômeno instantâneo. A obra, escrita em forma de diário, relata o acidente que o deixou tetraplégico aos 20 anos, quando mergulhou em um lago raso e fraturou a coluna cervical. O livro é um misto de relato pessoal, reflexão filosófica e crítica à sociedade, e foi aclamado tanto pelo público quanto pela crítica. Feliz Ano Velho vendeu mais de 1 milhão de exemplares e foi traduzido para diversos idiomas, consolidando Paiva como uma voz única na literatura brasileira.
A adaptação de Feliz Ano Velho para o cinema, em 1987, dirigida por Roberto Gervitz, foi um marco na carreira de Paiva. O filme, que manteve o tom cru e emocionante do livro, foi bem recebido pelo público e ajudou a ampliar o alcance da história. A obra também ganhou uma adaptação para o teatro, mostrando a versatilidade da narrativa de Paiva e sua capacidade de ressoar em diferentes formatos.
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Outra obra de destaque é Blecaute, que também foi adaptada para o cinema em 1994, com direção de Marcelo Rubens Paiva e Ugo Giorgetti. O filme, que retrata um apagão em São Paulo e as consequências caóticas que ele desencadeia, reflete o olhar crítico do autor sobre a sociedade brasileira. A adaptação foi elogiada por sua abordagem criativa e por capturar o espírito do livro.
Em 2006, Paiva lançou As Fêmeas, uma obra que explora as complexidades das relações amorosas e a dinâmica de poder entre homens e mulheres. O livro foi adaptado para uma minissérie da TV Globo em 2017, com roteiro do próprio autor. A produção, que contou com um elenco de peso, foi aclamada por sua narrativa ousada e pela forma como abordou temas como desejo, traição e identidade.
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Além de sua carreira como escritor, Marcelo Rubens Paiva também se destacou como dramaturgo, colunista e roteirista. Sua versatilidade e capacidade de transitar entre diferentes gêneros e formatos são prova de seu talento e dedicação à arte de contar histórias. Ele também é conhecido por sua atuação política, sempre defendendo causas sociais e a memória de seu pai, Rubens Paiva, cuja morte durante a ditadura militar foi um marco em sua vida e obra. Dentre os roteiros que escreveu para o cinema, destaca-se Depois de tudo (dir. Johnny Araújo, 2014), em parceria com Mauro Mendonça Filho, que conta a complexa história de amigos de adolescência que se reencontram adultos, e tentam remontar sua história, a partir das lembranças de cada um.
Foi um dos diretores artísticos da cerimônia oficial de abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Nesse mesmo ano, recusou-se a receber a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura, na gestão do presidente Michel Temer, afirmando que só aceitaria uma homenagem vinda de “um governo eleito pelo voto direto”.
Em 2020, Paiva lançou A Segunda Vez que Te Conheci, um romance que mistura ficção e autobiografia. O livro narra a história de um escritor que, ao revisitar seu passado, descobre segredos de família e reflete sobre amor, perda e redenção. A obra foi bem recebida pela crítica e reforçou a relevância de Paiva no cenário literário brasileiro.
Marcelo Rubens Paiva é um autor que consegue transformar dor em arte, criando obras que emocionam, provocam e inspiram. Reconhecido com várias premiações, incluindo três Jabutis. Sua capacidade de abordar temas difíceis com sensibilidade e humor faz dele um dos escritores mais importantes da atualidade. Suas histórias continuam a ressoar com leitores de todas as gerações, mostrando que a literatura pode ser uma ferramenta poderosa para entender e transformar o mundo.
Serviço:
Título: Feliz Ano Velho
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Páginas: 192
Editora: Alfaguara
Título: Blecaute
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Páginas: 176
Editora: Alfaguara
Título: As Fêmeas
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Páginas: 240
Editora: Alfaguara
Título: A Segunda Vez que Te Conheci
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Páginas: 224
Editora: Alfaguara