“Eu estou lendo, neste momento, pela décima vez, eu acho, Pedro Páramo, do grande Juan Rulfo, cuja casa, eu conheci lá no México, quando fui participar da Feira do Livro de Guadalajara, que é uma das melhores do mundo. Eu fui homenageado numa escola e então perguntei aos estudantes se eles já tinham lido esse romance, um dos mais lidos no mundo inteiro. A maioria não tinha lido. Estavam ali, olhando para a casa de Juan Rulfo e não conheciam. Uma mocinha no meio da turma disse: ‘eu li para os exames’, o vestibular deles. Enfim, não é só no Brasil que precisamos estimular a leitura dos jovens. Para mim, o maior destaque dessa obra é a qualidade do texto, a inventividade, a maneira de criar, de inventar. Esse é o livro inaugural do Realismo Fantástico. Embora Gabriel García Márquez diga que não existe realismo fantástico, a América Latina é fantástica por natureza. Não precisa inventar nada”.
Raimundo Carrero nasceu em dezembro de 1947 na cidade de Salgueiro, no sertão de Pernambuco, e é um dos autores mais celebrados do Brasil. Sua carreira literária inclui prêmios importantes, como o Prêmio Jabuti (2000), Prêmio São Paulo (2010), Prêmio APCA (1995 e 2015), Prêmio Machado de Assis (1995 e 2010), além de diversas outras distinções. Sua obra, traduzida em países como França, Romênia, Uruguai e Bulgária, é reconhecida internacionalmente. Carrero tem uma produção literária diversificada, com títulos notáveis como Somos pedras que se consomem (1996), As sóbrias ruínas da alma (2000), Sombra severa (2001), O delicado abismo da loucura (2005), A preparação do escritor (2009), Tangolomango (2013), Estão matando os meninos (2020), entre outros. Sua obra se destaca por seu enfoque em temas como a violência, a angústia existencial e a complexidade das relações humanas.
“Foi sob a inspiração de Ariano Suassuna, seu grande mestre, que Carrero entendeu que a realidade está aí para ser revirada e vencida, e não reverenciada. Suassuna lhe ensinou que a verdade não é estática, mas que ela surge sempre atravessada pela potência de um saber. É preciso, sim, injetar erudição e altura ali onde, a princípio, parece haver só um monte de terra. Foi com Suassuna que Carrero aprendeu que é preciso soprar conhecimento e dúvida mesmo sobre as mais sólidas verdades. Agitar, revirar, interrogar, perturbar — porque a vida é uma só e deve ser vivida não como morte, como experiência fixa, mas como vibração e fabricação.” Trecho do texto Carrero agarrado ao real, de José Castello, incluído na apresentação do box com os quatro livros de Raimundo Carrero.
O escritor pernambucano é um dos homenageados da Festa Literária Internacional de Pernambuco que segue até o dia 17 de novembro, em Olinda.
Título: “Pedro Páramo”
Autor: Juan Rulfo
Editora: José Olympio
Páginas: 176
Tradução: Eric Nepomuceno