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Socorro Nunes lança “Aponto Meu Lápis com Faca”, seu primeiro livro de contos

A escritora cearense radicada em Minas Gerais, Socorro Nunes, acaba de lançar seu primeiro livro de contos, intitulado Aponto Meu Lápis com Faca, pela Editora Urutau. A obra marca a estreia da autora no gênero, após a publicação de quatro livros de poesia: Meu Samba (2015), Miragem (2015), O que Ficou da Fotografia (2016) e As Flores daqui São Duras (2021).

Doutora em Educação e professora titular da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Socorro Nunes já havia se consolidado como uma voz relevante na poesia brasileira, com textos publicados em jornais, sites e coletâneas. Agora, com Aponto Meu Lápis com Faca, ela mergulha na prosa de ficção, explorando temas que refletem sua vivência no sertão cearense e sua conexão com o Brasil profundo.

“Essa produção já vem sendo escrita desde a pandemia. Faço parte de um grupo de estudo de contos de mulheres do Recife que se reúnem há mais de uma década. Eu entrei nesse grupo em 2021, e iniciei a escrita de alguns contos desse livro. Tem sido uma alegria compartilhar dessa experiência com o grupo Gracilianas. O grupo é uma espécie de laboratório na leitura e na reflexão sobre a escrita de contos, com quem tenho aprendido muitíssimo”, detalha. Segundo a autora, ela se vê como uma poeta que decidiu fazer uma experiência na prosa. “Uma coisa que noto é que o modo de produzir os textos em prosa passa muito pelo modo como escrevo poemas. Muitas metáforas e outras imagens que, naturalmente, colocaria num poema, trago para o texto em prosa. Existem algumas marcas que são claramente marcas de quem está também na poesia”, resume Socorro.

O livro reúne contos ambientados em Morada Velha, uma cidade fictícia de paisagem árida, onde as protagonistas — todas mulheres — enfrentam a opressão de uma estrutura social rígida e a repetição de destinos imutáveis. A narrativa se expande para além do sertão, levando personagens a Londres e outros lugares, mas sem que isso signifique uma verdadeira libertação. O exílio, assim como a vida em Morada Velha, é marcado pela precariedade e pela solidão.

“As protagonistas lembram as vivências que eu tive no Ceará, elas trazem marcas que eu também carrego. Não é um livro autobiográfico, claro, mas certamente a minha vivência no Ceará dos meus primeiros 20 anos moldou a escrita. Sou do Sertão e lá se vive num clima semiárido em que há escassez de água, clima quente e modos de vida bastante conservadores nos valores. Essas mulheres não são conformistas, muitas delas vivem à procura de sobreviver e de romper com esses modos de vida que as oprimem”, detalha a autora.

O título do livro remete a uma prática comum no sertão: apontar lápis com faca, um gesto que simboliza a resistência e a sobrevivência diante das adversidades. Segundo a autora, o título é forte, polissêmico: “O título do livro aponta muito para essa questão de como é que nós apontamos a nossa própria vida com a faca quando vivemos sob condições de opressão, então esse livro, na verdade, trata da opressão das mulheres”.

Aponto Meu Lápis com Faca foi lançado no dia 20 de março, na Livraria do Jardim, em Recife, cidade que Socorro Nunes considera sua “terra de coração”. A obra já tem recebido atenção por sua escrita direta e cortante, que retrata sem romantismos a realidade de um Brasil marcado pela miséria e pelo abandono.

Com este livro, Socorro Nunes consolida sua trajetória literária, transitando entre a poesia e a prosa, e oferecendo ao leitor uma visão crua e necessária das desigualdades e das lutas cotidianas de mulheres em um contexto de opressão.

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