por Thaís Campolina
Em “Todo mundo tem mãe, Catarina”, primeiro romance da capixaba Carla Guerson, a palavra descoberta ganha contornos únicos. O fim da infância, já tão marcado pela invenção de si e do mundo típico da idade, se mescla com um passado familiar que a protagonista se vê obrigada a desvendar para poder crescer.
Centrada na adolescente Catarina, que mora sozinha com a avó em um típico condomínio de classe média baixa localizado no interior do Espírito Santo, a obra expõe diferentes arranjos familiares, fugindo do estereótipo de família de comercial de margarina, e as consequências da hipocrisia social na vida das mulheres e meninas.
Nesse processo de tentar mover o elefante branco parado debaixo do tapete da sala e assim poder acessar seu passado e entender melhor sua origem de menina sem mãe, Catarina começa a descobrir o corpo que habita, a cidade onde vive, o que o mundo tem a oferecer e quem de fato ela é, quer e pode ser.
Sem medo de abordar temas complexos, a autora nos apresenta uma trama que combina narração cativante, linguagem cotidiana, ritmo intenso, personagens interessantes e assuntos como abandono paterno, prostituição, sexualidade e religião. Além disso, o romance também trabalha a importância dos laços comunitários na vida das personagens e, assim, ressalta como a busca por fazer parte se faz presente em todas as idades.
“Todo mundo tem mãe, Catarina” é uma história de amadurecimento em que desejo, solidão, busca por pertencimento e toda a angústia que se descobrir gente e mulher gera se torna acontecimento.
Thaís Campolina é escritora, mediadora de leitura e especialista em Escrita e Criação pela Unifor. Seu livro de poesia “eu investigo qualquer coisa sem registro” (2021) foi premiado no concurso Poesia InCrível 2021. Sua próxima obra será publicada em breve pela Macabéa Edições.
Serviço
Título: Todo mundo tem mãe, Catarina
Autora: Carla Guerson
Páginas: 184
Editora: Reformatório